dom
07
out
2018

Haddad-Bolsonaro

Jornalista Ribamar Fonseca afirma que "os brasileiros mergulham nas urnas neste domingo para eleger não apenas o Presidente, governadores, senadores e deputados mas, principalmente, para escolher o tipo de regime que vigorará no país a partir do próximo ano, se o democrático ou o autoritário, se a paz ou a violência"; o colunista destaca que, se Bolsonaro vencer, "o Brasil pode viver sob novo regime autoritário, com uma ditadura da toga mesclada com militares".

Ribamar Fonseca

 
Brasil vai às urnas sob o olhar atento e preocupado do mundo

O Brasil vai às urnas neste domingo para escolher seu novo Presidente. Será uma eleição atípica, nervosa e tensa, porque embalada pela intolerância e pelo ódio e, também, porque tutelada por uma justiça vergonhosamente partidarizada, que tirou do povo o direito de votar no candidato da sua preferência. Com uma ação política escancarada, pontilhada por manobras escandalosas, homens e mulheres de toga se empenharam em manter ilegalmente no cárcere o maior líder político do país, o ex-presidente Lula, de modo a impedi-lo, até com a restauração da censura à imprensa, de influenciar o processo sucessório presidencial. Com a valiosa ajuda da mídia, em especial da Globo, a mais alta Corte de Justiça do país criou, com esse comportamento condenado por juristas nacionais e internacionais, as condições ideais para a implantação do fascismo no território pátrio, favorecendo a candidatura extremista de Jair Bolsonaro, perigo percebido até pela imprensa mundial.

Os brasileiros, portanto, mergulham nas urnas neste domingo para eleger não apenas o Presidente, governadores, senadores e deputados mas, principalmente, para escolher o tipo de regime que vigorará no país a partir do próximo ano, se o democrático ou o autoritário, se a paz ou a violência. Será, no fundo, um plebiscito sobre o golpe de maio de 2016, que destituiu a presidenta Dilma Rousseff, e sobre o governo Temer, que destruiu a legislação trabalhista, programas sociais e entregou nosso petróleo para as multinacionais estrangeiras. Desse escrutínio, na verdade, ainda não sairá o novo Presidente, mas sim os dois candidatos que seguirão para o segundo turno, quando a batalha será mais encarniçada. Com base nas pesquisas de intenção de votos já é possível afirmar-se que irão para a segunda fase os candidatos Fernando Haddad, do PT, e Jair Bolsonaro, do PSL. O primeiro, indicado por Lula, representa a paz e o progresso, e o segundo, que defende o uso de armas para solucionar os problemas nacionais, representa o retrocesso, o atraso, o fascismo, a continuidade do governo Temer.

As eleições deste domingo se revestem de grande importância, não apenas para os brasileiros mas, também, para o mundo, dada a relevância do Brasil como o maior país da América Latina e, também, graças ao espaço conquistado entre as grandes potências do planeta pelo governo Lula. Por isso, a imprensa mundial acompanha com muito interesse o nosso pleito, visivelmente preocupada com a possibilidade de vitória do candidato da extrema direita, porque o resultado produzirá inevitáveis reflexos na comunidade internacional. O mais interessado em nossas eleições, ninguém tem dúvidas, são os Estados Unidos, que terão o Brasil de novo a seus pés com Bolsonaro na Presidência da República. Os norte-americanos, que participaram decisivamente da conspiração que culminou com o golpe de 2016 e atuaram em parceria com a Lava-Jato para garantir a prisão do ex-presidente Lula, de modo a impedir o seu retorno ao governo, também interferiram nestas eleições com o objetivo de assegurar a vitória do ex-capitão. Trouxeram para cá, inclusive, o esquema que elegeu Donald Trump: a inundação de fake news nas redes sociais, em especial no whattsapp, para eleger Bolsonaro.

As fake news, na verdade, turbinaram a candidatura fascista, desafiando o Tribunal Superior Eleitoral que, sob a presidência do ministro Luiz Fux, prometeu combatê-las. O TSE não moveu um músculo para conter a onda de notícias falsas contra o candidato do PT que tomou conta das redes sociais. Aquela Corte, que barrou a candidatura de Lula, sequer soltou um gemido quando Bolsonaro concedeu uma entrevista isolada à TV Record, ausentando-se do debate na Globo com um atestado médico que só servia para a emissora dos Marinho. É a mesma justiça que impede Lula de votar, dar entrevistas e receber visitas. A escandalosa perseguição da justiça a Lula e ao PT, que prossegue escancarada mesmo depois da sua prisão ilegal, faz parte do projeto norte-americano de impedi-lo de voltar ao poder, de modo a evitar, de qualquer maneira, que o Brasil se alinhe à Rússia e à China, de cujas nações se aproximou no governo petista. Os norte-americanos querem o Brasil de novo sob o seu domínio, de onde foi arrancado por Lula. E, também, o nosso petróleo, com Petrobrás e tudo, que FHC havia prometido a eles durante o seu governo. Não foi por outra razão que a estatal foi espionada, durante um bom tempo, pela Agência Nacional de Segurança daquele país do Norte.

Ainda é muito cedo para se fazer um prognóstico do resultado do segundo turno das eleições, mas de uma coisa ninguém tem dúvidas: se a esquerda não se unir e partir para a luta nas ruas, usando também com competência as redes sociais, o ex-capitão pode vencer. E o Brasil pode viver sob novo regime autoritário, com uma ditadura da toga mesclada com militares. Não é difícil perceber que os generais, que até pouco tempo se mantinham discretos, longe dos holofotes, hoje voltaram a ser protagonistas, como candidatos a cargos eletivos ou como assessores. Bolsonaro, por exemplo, além do vice tem generais em sua equipe, o que sugere uma situação pitoresca: generais batendo continência para um capitão. Até o novo presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, provavelmente atento ao retorno dos militares ao cenário político nacional, nomeou um general para chefiar a sua assessoria, o que pode indicar seu entrosamento com o pessoal da caserna. O seu discurso nas comemorações do aniversário da Constituição, recheado de "nunca mais", a exemplo da sua antecessora, não passou de um palavrório distante da realidade. Suas decisões mais recentes contradizem as suas palavras. E se depender dele, é possível que "nunca mais" tenhamos uma Constituição realmente respeitada.

Brasil 247


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