“Os homens sábios usam as palavras para os seus próprios cálculos, e raciocinam com elas, mas elas são o dinheiro dos tolos”.

Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo inglês, autor de Leviatã

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11
dez
2014

“Os compositores negros não se lembravam mais da noite da senzala, limitando-se a compor música dançante”

Sitônio PintoOtávio Sitônio

Em 1943 O gaúcho Mateus Nunes gravava sua toada “Mãe Preta” nos estúdios da Continental, em São Paulo. A música foi feita em parceria com Piratini, maestro do conjunto em que tocava. Cantor, Mateus Nunes tocava contrabaixo, piano e percussão. Era negro no Rio Grande do Sul, estado onde o contingente afrodescendente é limitado, hoje, a 2% da população, formada por italianos, alemães, judeus, árabes, polacos, espanhóis e outras etnias.

O jovem músico ganhara o apelido de “Caco Velho” ainda menino, quando vendia bombons e chocolates nos noites de Porto Alegre. “Caco Velho” é um samba de Ary Barroso que o menino cantava insistentemente, como característica musical. “Mãe Preta” fez sucesso no Brasil, ganhando várias gravações, inclusive como toada-baião. Foi levada para Portugal pela cantora portuguesa Maria da Conceição, que gravou a música.

“Mãe Preta” era uma crônica da escravidão – uma das raras letras de música que abordavam o tema. Fazia apenas 55 anos da abolição da escravatura, mas os compositores negros não se lembravam da noite da senzala, limitando-se a compor música dançante ou sambas carnavalescos. A letra da toada de Caco Velho era direta e cruenta: “enquanto a chibata batia no seu amor, / Mãe Preta embalava o filho branco do senhor”.

A toada fez sucesso em Portugal e na África. Em Angola foi gravada pelo Duo Ouro Negro, do qual o brasileiro Sivuca foi maestro. Mas a letra incomodou a censura salazarista e a memória branca. O sucesso de “Mãe Preta” foi extensivo a Caco Velho, que passou uma temporada em Lisboa e, mais tarde, em Paris e na Madeira. Caco Velho fez amizade com Amália Rodrigues, que lhe pediu autorização para encomendar outra letra para “Mãe Preta”, sem implicações ideológicas.

E o poeta David Jesus Mourão-Ferreira criou “Barco Negro” para a melodia de “Mãe Preta”, grande sucesso na voz de Amália, até hoje cantado por intérpretes diversos como Mariza, Margarida Guerreiro, Kátia Guerreiro, Joana Amendoeira, os grupos Amor Electro e Maria Lua, o brasileiro Ney Matogrosso e outras vozes. A “Mãe Preta” original foi gravada ainda por Dulce Pontes, pela madrilena Dolores Pradera, o grupo Maria Lua, a brasileira Virgínia Rosa e mais intérpretes.

O grupo Maria Lua gravou as duas versões, “Mãe Preta” e “Barco Negro”, em ocasiões diferentes. Sugeri ao chefe do grupo que gravasse as duas versões numa só peça. A mesma sugestão dei ao maestro Jacques Morelembaum, quando ele trabalhava com Mariza. O maestro gostou da ideia, mas “Mãe Preta / Barco Negro”, numa versão unificada, permanece inédita.

Depois de Caco Velho ninguém mais cantou a tragédia da escravidão no Brasil. O silêncio negro só veio a ser quebrado com a chegada de Chico César, nascido no ano do golpe militar de 1964. Em suas rimas raras, Chico César denuncia o tratamento discriminatório dado aos negros pela sociedade brasileira. É o que se ouve em “Respeitem os meus cabelos, brancos” (sic), onde o discurso fica explicitado já no título.

Chico César teve oito de suas músicas gravadas por Né Ladeiras, a notável cantora da música de raiz portuguesa, que abriu espaço para a música étnica do compositor de “Mama Africa” no álbum “Da minha voz”. À sua aceitação pela diva portuguesa, Chico César somou o reconhecimento de Maria Bethânia, Chico Buarque, Daniela Mercury, Elba e Zé Ramalho, que gravaram suas canções por vezes acompanhadas pelo violão singular do autor de “As Asas”. Meio século depois de Caco Velho, o negro voltou a cantar sua verdade na poesia e nas asas do brasileiro Chico César.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.


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11
dez
2014

Brasil pode perder 30% de suas línguas indígenas nos próximos 15 anos

O Brasil corre o risco de perder, no prazo de 15 anos, um terço de suas línguas indígenas, estima o diretor do Museu do Índio, José Carlos Levinho. Atualmente, os índios brasileiros falam entre 150 e 200 línguas e devem ser extintas, até 2030, de 45 a 60 idiomas.

“Um número expressivo de povos, inclusive na Amazônia, tem cinco ou seis falantes apenas. Nós temos 30% [das línguas] dos cerca de 200 povos brasileiros com um risco de desaparecer nos próximos dez ou 15 anos, porque você tem poucos indivíduos em condições de falar aquela língua”, alerta Levinho.

Segundo ele, desde que o Museu do Índio iniciou um trabalho de documentação de línguas dos povos originais, chamado de Prodoclin, em 2009, os pesquisadores do projeto viram dois idiomas serem extintos, o apiaká e o umutina.

“Tem também a situação de [línguas faladas por] grupos numerosos, em que você tem um número expressivo de pessoas acima de 40 anos falando o idioma mas que, ao mesmo tempo, tem um conjunto de jovens que não falam mais a língua e não estão interessados em mantê-la. Então, você não tem condições de reprodução e manutenção dessa língua. A situação é um tanto quanto dramática. Esse é um patrimônio que pertence não só à comunidade brasileira como ao mundo”, destaca Levinho.

É uma perda irreparável tanto para as culturas indígenas quanto para o patrimônio linguístico-cultural mundial. Especialistas e indígenas ouvidos pela Agência Brasil afirmam que esses idiomas, que levaram séculos para se desenvolver, são fundamentais para a manutenção de outras manifestações culturais, como cantos e mitos.

EBC


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11
dez
2014

O Ministério Público da Paraíba (MPPB) – através da Promotoria de Justiça Especializada no Combate à Sonegação Fiscal e do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) -, a Secretaria de Estado da Receita (SER) e as Polícias Civil e Militar desencadearam, na manhã desta quinta-feira (11), a operação “Windows” para desarticular um esquema de sonegação fiscal praticado por grupo empresarial que gerou prejuízo de mais de R$ 8 milhões aos cofres públicos estaduais, entre 2006 e 2013. Às 11h, será concedida uma coletiva de imprensa sobre a operação, no auditório da Procuradoria-Geral de Justiça do MPPB, em João Pessoa.

Vinte e três mandados de busca e apreensão, dois mandados de prisão temporária e 16 notificações para oitivas das pessoas que têm indícios de participação nos crimes contra a ordem tributária, falsidade ideológica, estelionato e formação de quadrilha estão sendo cumpridos, em sedes de empresas, residências de sócios e escritórios de contabilidade localizados em diversos municípios paraibanos. As penas dos crimes somadas chegam a 18 anos de reclusão.

De acordo com investigações preliminares realizadas pela Receita Estadual e Promotoria de Justiça Criminal de Combate à Sonegação Fiscal, nos últimos oito anos, uma organização criminosa liderada por forte empresário do ramo da informática vem se utilizando de 13 empresas (a maioria delas constituídas em nome de “laranjas”), que vêm se alternando em suas vidas úteis, vez que, encerravam as atividades, quando extrapolavam os valores dos impostos estaduais sonegados. Isso frustrava o recebimento de tais receitas pelo Estado da Paraíba, que se vê impedido de recuperá-las, considerando que os “laranjas” são totalmente desprovidos de recursos financeiros e patrimoniais.

Participam da operação dez promotores de Justiça, 58 auditores fiscais estaduais da SER, 19 equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar do Estado da Paraíba e quatro delegados da Polícia Civil.

MPPB


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11
dez
2014

O governador Ricardo Coutinho assinou o decreto que institui o Grupo de Trabalho (GT) do Parque Estadual Arqueológico Itacoatiaras do Ingá. A comissão será responsável pelos estudos e ações necessárias para implantação do equipamento. Com isso, o Governo Estadual reafirma sua política de preservação ambiental e de incentivo ao potencial turístico paraibano, levando em consideração os princípios de desenvolvimento sustentável.

O Parque Estadual Arqueológico Itacoatiaras fica localizado na zona rural de Ingá, município do Agreste paraibano. Trata-se de uma formação rochosa em gnaisse que cobre uma área de cerca de 250 m². No seu conjunto principal, um paredão vertical de 50 metros de comprimento por 3 metros de altura, e nas áreas adjacentes, há inúmeras inscrições cujos significados ainda são desconhecidos. Neste conjunto estão entalhadas figuras diversas, que sugerem a representação de animais, frutas, humanos e constelações como a de Órion.

Secom-PB


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11
dez
2014

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"Às voltas com uma oposição agressiva, capaz de estimular passeatas que falam em impeachment e pedem intervenção militar, num ambiente pesado no qual o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso permite-se questionar a ‘legitimidade’ de seu mandato, Dilma livrou-se de um constrangimento — a mancha política de ser empossada com as finanças de campanha sob suspeita", diz o jornalista Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília; "A vitória de Dilma foi valorizada, em particular, pelo desempenho de um personagem principal: o relator Gilmar Mendes, ministro que desde 2012, no julgamento da AP 470,  tem-se destacado pela caráter ideológico de seus votos contra o PT"

247 – A goleada de 7 a 0, na votação que, ontem, aprovou as contas de campanha da presidente Dilma Rousseff foi uma "vitória da democracia", avalia Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília.

"A decisão não resolve nenhum problema que o governo Dilma poderá enfrentar na economia, na composição do ministério ou na articulação com aliados durante o segundo mandato. Mas livrou a presidente de um inevitável mal-estar na cerimonia de diplomação, marcada para 18 de dezembro e também na posse, em 1 de janeiro. Para quem, como eu, sempre considerou que havia uma motivação essencialmente política nas insinuações e ilações sobre as verbas de campanha, o 7 a 0 marca uma vitória da democracia, uma manifestação de respeito pela vontade do eleitor", diz ele.

O motivo: "às voltas com uma oposição agressiva, capaz de estimular passeatas que falam em impeachment e pedem intervenção militar, num ambiente pesado no qual o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso permite-se questionar a ´legitimidade´ de seu mandato, Dilma livrou-se de um constrangimento  — a mancha política de ser empossada com as finanças de campanha sob suspeita."

Segundo Paulo Moreira Leite, a "vitória de Dilma foi valorizada, em particular, pelo desempenho de um personagem principal: o relator Gilmar Mendes, ministro que desde 2012, no julgamento da AP 470,  tem-se destacado pela caráter ideológico de seus votos contra o PT".

No entanto, desta vez, faltavam argumentos. "O advogado Fernando Neves, antigo ministro do TSE, disse no final do julgamento que ´bastava conhecer os argumentos de quem queria rejeitar as contas para ver que era um trabalho sem muito sentido. Se tivesse votado pela rejeição, Gilmar Mendes teria negado tudo o que fez em sua carreira. Ele sempre deu votos técnicos.´”

Leia a íntegra em Entenda a vitória de Dilma por 7 a 0

Brasil 247


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11
dez
2014

estação das artes

O corpo do ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Agra (PEN), já se encontra na Estação das Artes, onde será velado. O velório será aberto ao público a partir das 10h. Antes, familiares e amigos terão um momento reservado para velar o corpo. O sepultamento do ex-prefeito será realizado às 16h, no cemitério Parque das Acácias, no bairro do José Américo.

Luciano Agra morreu na noite dessa quarta-feira (10), por conta de complicações após um acidente vascular cerebral. Ele estava internado há uma semana no Hospital Memorial São Francisco, na capital paraibana, mas não conseguiu se recuperar dos danos causados pelo AVC.

Paraíba Já


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11
dez
2014

banner_línguas_indígenas

Meu xará, carioca da Tijuca, foi ao Pará surfar a pororoca, em um rio infestado de piranhas e jacarés. Nas margens, viu jaguares, quatis e capivaras. No céu, sobrevoavam araras, tucanos e urubus. Enquanto estava lá, bebeu suco de caju e de maracujá. Comeu pipoca, mandioca, carne de tatu e de paca. Visitou uma taba amazônica e foi cutucado por um curumim curioso. Dormiu em uma oca cheia de cupim e ficou com o corpo coberto de perebas. Foi atendido por um pajé. Depois de algum tempo, quando já estava na pindaíba, voltou para casa.

O texto acima é fictício e pode até ter informações inexatas, mas serve para mostrar como a língua usada no dia a dia no Brasil recebeu grande influência do idioma tupi, amplamente falado no país quando os primeiros portugueses chegaram no século 16. Nada menos que 27 palavras de origem indígena (que estão grifadas em itálico) foram usadas no parágrafo.

O tupi antigo foi, durante as primeiras décadas de ocupação portuguesa, a principal língua de comunicação entre índios, europeus e uma geração de brasileiros mestiços que começava a povoar o território nacional.

Com o passar do tempo, o tupi antigo evoluiu para outras línguas, como o nheengatu (ou língua geral amazônica, falada até hoje), mas acabou perdendo importância a partir de meados do século 18, quando o então primeiro-ministro português, Marquês de Pombal, proibiu o uso e o ensino do tupi no Brasil e decretou o português como língua oficial.

O objetivo de Pombal era enfraquecer a Igreja Católica e os jesuítas, que utilizavam a língua indígena para se aproximar e catequizar os nativos brasileiros. Com a proibição, o tupi desapareceu como idioma funcional (sobrevivendo apenas como a variação nheengatu na Amazônia).

Apesar disso, a língua se manteve viva, principalmente, por meio de palavras do português falado no Brasil. Segundo o filólogo Evanildo Bechara, organizador do Dicionário da Academia Brasileira de Letras (ABL), é difícil dizer quantas palavras do português são originárias do tupi. “Nos dicionários, há palavras que não são mais usadas e há algumas até que só têm um uso em determinada região”, diz.

De acordo com Bechara, a contribuição do tupi se deu principalmente no vocabulário, já que não houve influências importantes na gramática do português (na pronúncia, na fonética ou na sintaxe). “Desde cedo, a língua portuguesa entrou em contato com essas línguas [indígenas]. Então é natural que, do ponto de vista do vocabulário, os portugueses tenham encontrado nomes de plantas e animais que não eram conhecidos [até então]. O vocabulário da língua portuguesa está repleto de palavras indígenas, porque os portugueses encontraram aqui um novo mundo da fauna e da flora”, explica.

Além dos nomes de plantas, animais e gastronomia, houve uma grande contribuição do tupi para os nomes de lugares no Brasil. Topônimos como Iguaçu, Pindamonhangaba, Ipiranga, Ipanema, Itaipu e Mantiqueira são palavras ou expressões indígenas. Há heranças do tupi também em verbos, como “cutucar”, e em expressões populares como “estar na pindaíba” ou “ficar jururu”.

A contribuição do tupi, no entanto, não ficou restrita ao Brasil. Algumas palavras indígenas brasileiras ganharam o mundo e influenciaram idiomas como o inglês e o francês. O dicionário de língua inglesa Merriam-Webster cita várias palavras de origem tupi, como manioc (que vem de mandioka), capybara (que vem de kapibara), toucan (que vem de tukana), jaguar (que vem de îagûara) e tapir (que vem de tapi’ira, conhecida como anta no Brasil).

Entre os casos da influência tupi no mundo está a palavra akaîu, que se transformou em “caju” na língua portuguesa. A fruta tipicamente brasileira ganhou espaço na culinária mundial, tanto por sua polpa quanto pela castanha. O sucesso linguístico veio no embalo do gastronômico.

Várias línguas hoje conhecem a fruta por palavras derivadas do akaîu. Entre os exemplos de vocábulos derivados do original indígena estão cashew (inglês, sueco, alemão, holandês, dinamarquês), acagiú (italiano), kaju (turco), cajou (francês), kásious (grego), kashu (búlgaro e japonês) e kašu (estoniano).

Apesar de a maior parte dos vocábulos virem do tupi, há contribuições isoladas de outras línguas como a palavra “guaraná”, que vem de warana, de origem sateré-mawé. Os Saterés-Mawés, que vivem no estado do Amazonas, são considerados os inventores da cultura do guaraná porque conseguiram beneficiar o fruto. Assim como a tupi akaîu, a palavra warana influenciou outros idiomas, além do português.

Outra contribuição indígena não tupi é a palavra “mico”, que, de acordo com o dicionário Michaelis, provém do termo miko, de um idioma da família linguística karib.

Agência Brasil


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