qui
21
maio
2015

“As Moiras, as Parcas e as Nornas nos deram B. B. King por quase 90 anos, até 14 deste maio de 2015”

OTÁVIO SITÔNIOOtávio Sitônio Pinto

Quem realizou mais de dez mil espetáculos musicais não morrerá nunca. Esse é parte do legado que B. B. King deixará para a humanidade que honrou com seu nascimento e alegrou com sua vida. Os fãs devem dar graças por uma existência tão fértil e feliz. Foram 89 anos da melhor música cantada e tocada por um dos melhores guitarristas do mundo. Seu desempenho foi multiplicado pela longevidade. Encantou-se – como disse Guimarães Rosa. Ficam sua obra riquíssima e seu exemplo de vida. Filantropo, gostava de fazer os outros felizes, além de tocar e cantar.

Riley Ben King influenciou mais de uma geração de músicos do blues, do jazz e do rock. Foi superado apenas por um de seus discípulos: Jimmy Hendrix. Até nisso foi perfeito, pois a maior glória do mestre é ver o discípulo ir mais além. B. B. King viveu, amadureceu e feneceu naturalmente, passando para o outro mundo num processo natural. Diagnóstico: diabetes tipo dois, hipertensão, colapso cerebral. As pessoas lamentam a morte dos entes queridos como se esse acidente pudesse ser evitado. Mas tudo perece, até as rochas e as montanhas.

As Moiras, as Parcas e as Nornas nos deram B. B. King por quase 90 anos, até 14 deste maio de 2015. Graças a elas por deixá-lo tanto tempo conosco, tanto tempo fértil. Embora Oscar Niemeyer, encantado aos 105 (dezembro de 2012), tenha dito com muita autoridade que “a vida é um sopro”, e que “o importante é mulher, o resto é brincadeira”. Às vezes, as deusas do tempo requisitam bandas inteiras, como a do francês Gardel, 45, aos 24 de junho de1935, mais seu parceiro brasileiro Le Pera, e Glenn Miller, 40, em 15 de dezembro de 1944, este no Canal da Mancha, que se atravessa a nado.

Devemos ser mais gratos ainda ao ver que as Moiras, Parcas e Nornas não fizeram a King o mesmo que a Janis Joplin, encantada aos 27, em quatro de outubro de 1970; a Jimmy Hendrix, 28, em 18 de setembro do mesmo ano; a Elis Regina, 36, em 17 de janeiro de 1982. Hendrix foi o responsável pela maior interpretação que qualquer música já recebeu no mundo: “The Star-Spangled Banner”, no festival de Woodstock, em plena guerra do Vietnam (1969-1975), Guerra de Kennedy, pois foi este quem a inaugurou. Na guitarra, Hendrix imitou o som da artilharia e dos bombardeios americanos sobre o povo vietnamita. Esse atrevimento teria lhe custado a morte ministrada pela CIA.

Quase todas essas estrelas morreram de uma causa comum entre o artistas: overdose. Mal idêntico ocorreu à cantora e compositora Amy Winehouse, 27, aos 23 de julho de 2011. E com Whitney Houston, 48, cantora e atriz, aos 11 de fevereiro de 2012 e seis Grammy. Segundo Claudia Leitte, a intérprete de “I will always love you” foi uma das maiores cantoras do mundo. Uma prima legítima de Houston e grande cantora é apaixonada pelo Brasil: Dionne Warwick (12-12-1940), intérprete de “I Want To Dance With Somebody”.

Dionne colocou essa música entre os sete primeiros lugares consecutivos em audiência. Vale a pena ouvir “Begin the begine” mais uma vez, na sua voz negra. Fez dueto com Houston. Três amores da bela Dalida, 54 (miss Egito, bela como sua voz), se suicidaram. Ela não aguentou mais e também se matou, aos três de maio de 1987. Charlie Parker, 35, em 12 de março de 1955, calou o maior sax do mundo. Elvis Presley, 42, saiu do palco da vida aos 16 de agosto de 1977.

Esses astros tiveram mais uma coisa em comum: estavam no zênite de suas carreiras quando houve o encantamento. Como se as Nornas, as Parcas, as Moiras não tolerassem a glória nos mortais. Todos os astros, menos King. Ele tocou sua Lucille até os 89. Plangia poucas notas, cada uma valendo por dez, feito Lula Pena. A mão esquerda adejava as cordas, as teclas de Sivuca, o sanfoneiro. Lucille era como chamava à sua guitarra ES-355, fiel companheira em 66 anos, como a Scandalli de Sivuca e Dominguinhos, hoje de Lucy Alves. As Moiras deixaram King fazer mais de dez mil shows; as Parcas permitiram-lhe 16 filhos e meia centena de netos; as Nornas aceitaram seus 16 Grammy e que recebesse aplausos do Papa. Os deuses se respeitam.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.


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