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24
dez
2020

vacina contra a Covid-19

México, Chile e Costa Rica inciaram o processo de vacinação e são os primeiros países da região a usar o imunizante da Pfizer/BioNTech. Imunização na Argentina terá início na segunda-feira (28). Brasil ainda não tem data definida para vacinar a população.

México e Costa Rica receberam os primeiros lotes de vacinas na quarta-feira (23) enquanto o Chile recebe na quinta-feira (24). Os três países vão inaugurar um processo de vacinação quase simultâneo com a vacina dos laboratórios americano e alemão na América Latina. Os primeiros a receberem doses são pessoal da área da Saúde, idosos e doentes crônicos.

Os primeiros lotes são pequenos, sobretudo considerando que devem ser tomadas duas doses do imunizante. Porém, o começo do processo tem uma simbologia social e política significativa e, em torno da expectativa, os governos têm construído um relato épico de propaganda política.

Vacinação começa no México

A enfermeira María Irene Ramirez, de 59 anos, chefe da unidade de terapia intensiva do hospital Ruben Leñero, na cidade do México, foi a primeira mexicana a ser vacinada, nesta quinta-feira.

O México começa com três mil doses, mas até o final de janeiro, vai receber 1,4 milhão. No total, serão 77,4 milhões da Oxford/AstraZeneca, 35 milhões da chinesa CanSino e 34,4 milhões de doses da plataforma COVAX. O objetivo é vacinar, pelo menos, metade da população de 130 milhões.

A Costa Rica começa com 9.750 doses, mas o acordo com a Pfizer prevê1,5 milhão de doses. Entre todos os contratos, a Costa Rica pretende vacinar dois dos cinco milhões de habitantes.

O Chile começa a vacinar ainda nesta quinta-feira. O contrato com a Pfizer chega a dez milhões de doses e com a chinesa Sinovac, estão previstas outras dez milhões. Também há dez milhões entre a Janssen da Johnson & Johnson e a AstraZeneca em associação com a Oxford. No total, serão 30 milhões para cobrir mais da metade dos 19 milhões de chilenos.

Além de México, Costa Rica e Chile, a vacina da Pfizer será distribuída, por enquanto, na Colômbia, no Equador, e no Panamá.

Argentina aposta na Sputnik e divide opiniões

A Argentina será a primeira a usar com a vacina russa Sputnik V. Nesta quarta-feira, tornou-se o primeiro país a aprovar oficialmente o produto na América Latina. Serão 300 mil doses neste primeiro lote e até março, o país receberá outras 10 milhões de doses. Enquanto os contratos com a Pfizer são entre os países e a empresa, o contrato da Argentina é com a Federação Russa.

A Argentina ainda não fechou um contrato com a Pfizer, mas a vacina da farmacêutica já foi aprovada pela Administração Nacional de Medicamentos, Alimentos e Tecnologia Médica (ANMAT), o órgão competente.

No entanto, a vacina russa, por ser um acordo de Estado a Estado, foi aprovada não pela ANMAT, mas pelo Ministério da Saúde, sem que ainda tenham sido publicadas as informações científicas dos ensaios clínicos da Sputnik.

"A falta de transparência com a informação científica da Sputnik e com o contrato de compra fizeram com que a vacina russa caísse na polarização política que divide a sociedade argentina", observa o ex-ministro argentino da Saúde, Adolfo Rubinstein sobre a desconfiança que o processo gera em boa parte da população.

"Para recuperar a credibilidade, a ANMAT deve ser quem comprova a segurança, a eficácia e a qualidade da vacina russa para que não seja uma questão política, mas técnica", defende Rubinstein.

Instrumento geopolítico para Rússia e China

Das cinco vacinas em aplicação no mundo neste momento, os países da região têm tido dificuldades em conseguir as vacinas da Pfizer e da Moderna. A demanda global supera a oferta e aumenta o risco de alteração do calendário de entrega das vacinas.

Os primeiros lotes que chegaram aos países latino-americanos são bem menores do que o inicialmente previsto. O México, por exemplo, esperava receber 125 mil, mas chegaram apenas três mil.

Os países ricos têm comprado as vacinas da Pfizer e da Moderna enquanto os mais pobres têm recorrido à Rússia e à China, que estariam aproveitando para usar seus imunizantes como instrumentos de geopolítica.

"Isso está acontecendo claramente. Os Estados Unidos, o Canadá e a Europa têm adquirido as vacinas da Pfizer e da Moderna. Alguns países latino-americanos conseguiram algumas quantidades. Só não sabem se o pactado será definitivo nem suficiente. É quando surgem no cenário a Rússia e a China", explica à RFI o cientista político equatoriano, Simón Pachano, da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO).

"Tanto com a China quanto com a Rússia, as negociações não são com empresas, mas com os governos. São acordos de Estado a Estado. A experiência indica que a China condiciona créditos à contratação de empresas chinesas. Bem pode haver uma relação entre a vacina e negócios amarrados", aponta Pachano.

Aliados regionais

Ao mesmo tempo, alguns países da região, aliados de russos e chineses, vão reforçar essa aliança preferencial. É o caso de Venezuela, Bolívia e Nicarágua, por exemplo. "Esses países vão inclinar-se pela vacina russa, reforçando a sua aliança política. E seguramente a Rússia terá um tratamento preferencial para eles", aposta Simón Pachano.

O venezuelano Nicolás Maduro anunciou que vai receber 10 milhões de doses da russa Sputnik V e que aguardava por acordos com a China e com Cuba, país que também avança com seus próprios imunizantes.

A Rússia pretende produzir na Argentina, de onde distribuiria a vários países da região. E a Argentina quer fazer a ponte dos países da América do Sul com a Rússia. "Estamos trabalhando para que Uruguai, México e Brasil entrem em contato com a Rússia", revelou a secretária de Saúde da Argentina, Carla Vizzotti

Impacto eleitoral das vacinas

O processo de vacinação tende a ser avaliado politicamente pela população, assim como foi avaliada a administração da pandemia neste ano. E assim como a curva de contágios teve incidência nas eleições deste ano, o sucesso ou o fracasso desses planos de vacinação podem ter impacto nos resultados eleitorais, já que diversos países da América Latina terão eleições no ano que vem.

O Equador (fevereiro) e o Peru (abril) terão eleições gerais, mas estarão em pleno processo de vacinação. A incidência nesses casos será menor. Mas as eleições gerais no Chile (novembro) vão acontecer quando o processo estiver avançado. As eleições legislativas no México (junho) e na Argentina (outubro) também devem sofrer impacto direto do processo de vacinação.

"O calendário eleitoral no Equador e no Peru está muito em cima. A incidência do processo será baixa. No Chile, a incidência será maior e, sobretudo, na Argentina. O caso argentino é um dos que mais efeito político teve devido à extensão da quarentena cuja rigidez levou milhares de pessoas às ruas em protesto. Agora, qualquer movimento do governo com a vacina terá um forte impacto político", prevê o analista Simón Pachano.

"Se a logística para a vacinação for mal resolvida, uma boa parte da opinião pública será severamente contrária ao governo argentino. Problemas com o mau manuseio da vacina ou roubo, por exemplo, são riscos. O governo tem feito uma promessa desmesurada. Se essa expectativa não for atendida, a resposta social virá pelas urnas", concorda o analista político argentino, Jorge Giacobbe.

A vacinação também pode ajudar no efeito rebote da economia, sobretudo se os governos fizerem uma campanha de comunicação que associe a imunização com a recuperação da economia, influenciando a percepção social.

"A cifra de recuperação da economia na América Latina em 2021 estará muito condicionada pela agilidade no processo de distribuição de vacinas", afirma Alicia Bárcena, secretária executiva da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL).

"É um grande desafio para todo o mundo, mas, especialmente, para os países em desenvolvimento que não puderam estocar reservas de vacinas", conclui.

Brasil 247


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