qua
11
mar
2015


Cel José Pereira e a arte de Rubens Antônio

Por José Romero Araújo Cardoso*

Cerco dos mais feroz de toda guerra de Princesa fez de Tavares miniatura do que futuramente se transformaria Stalingrado, quando da disputa entre nazista e exército vermelho no ensejo de uma das mais cruentas batalha de toda segunda grande guerra, pois esforços inenarráveis foram olvidados de ambas as partes contendoras no sentido de garantir domínio sobre a pequena povoação perdida nos confins do planalto da Borborema.

No dia 28 de março de 1930, após ocuparem Imaculada e Água Branca, 300 militares legalistas, sob o comando do Capitão João Costa, avançaram em direção a Tavares, intuindo tomar Princesa. Cerca de 90 defensores de Princesa interpunham a marcha da coluna militar. Tiroteio cerrado, marcado por emboscadas, resultou em seis baixas para os princesenses e 50 para as forças do governo João Pessoa.

Em 29 de março de 1930, apenas um dia antes da chegada de tropa composta de cerca de 300 militares, comandada pelo Capitão João Costa, igual número de defensores princesenses cercaram a vila, resultando em cerrado tiroteio.

Pedido de reforço, emitido via rádio, fez com que houvesse deslocamento de 150 homens comandados pelo Tenente Manuel Arruda de Assis e cerca de 400 combatentes mobilizados pelo Coronel Quinca Saldanha, chefe político de Caraúbas/RN que havia cerrado fileiras com o Presidente João Pessoa.

Livro inédito de autoria de Raimundo Soares de Brito, o qual urge publicação post mortem, intitulado O Quinca Saldanha que conheci, destaca o desprezo do velho gato vermelho por cabra de sua inteira confiança que abandonou o contingente enviado para lutar em Tavares. Não aguentou o rigor dos combates diuturnos que deixaram a povoação quase que completamente destruída.

Muitos jagunços desertaram quando tocaia montada a dois quilômetros de Tavares impediu o avanço da tropa. Reforço de 350 homens comandados pelo Capitão Irineu Rangel conseguiu romper o cerco formado pelos cabos-de-guerra princesenses Manuel Lopes Diniz (“Ronco Grosso”), Zeca Ferreira e João Paulino. Esse último era soldado desertor da Polícia Militar do Estado da Paraíba.

Durante 18 dias o cerco a Tavares foi mantido quase como questão de honra para os defensores de Princesa. Todas as tentativas do Presidente João Pessoa para romper a barreira formada pelos homens comandados por Zé Pereira se revelavam infrutíferas.

Até um feiticeiro foi colocado em cima do caminhão da vanguarda da “Coluna da Vitória”. Logo após o povoado de Água Branca, homens comandados por Marcolino Pereira Diniz, Gavião e Caixa-de-fósforo desfizeram a intenção do contingente militar. O feiticeiro foi o primeiro a ser varado de balas.

Em 19 de abril de 1930, cerca de 600 defensores de Princesa, chefiados por Manuel Carlos e José Rosas lançaram ofensiva violentíssima sobre Tavares, cuja posição estratégica, bem próxima de Princesa, tornara-se questão de honra para o governo João Pessoa manter. Nesse combate as baixas foram enormes para ambos os lados.

Todos os meios foram empregados na batalha de Tavares. Em plena seca que marcou o início dos anos trinta do século passado, os militares paraibanos tinham em uma cacimba a única fonte de abastecimento. Os defensores de Princesa jogaram sal amargo dentro. Para completar o desespero dos soldados havia o frio congelante típico de áreas montanhosas, mesmo localizadas no semiárido, aliada a um peste de pulgas que incomodava bastante. O Capitão João Costa e sua tropa passaram todo período de cerco comendo pipoca, pois milho era quase que o único alimento que dispunha, e, principalmente, pipoco de todo tamanho.

Zé Pereira não gostou da atitude de terem jogado sal amargo na cacimba onde os militares se dessedentavam. Conforme entrevistas prestadas por Zacarias Sitônio, Hermosa Goes Sitônio e Belarmino Medeiros, o chefe Princesense bradou em alto e bom tom: “Não concordo com o que fizeram. Queria que eles fossem pegos à unha!”

Na época pertencente ao Território Livre de Princesa, a vila de Tavares, cujo topônimo efetivou-se em homenagem ao Padre Francisco Tavares, benfeitor do lugar, viu de perto profanação e selvageria naqueles idos turbulentos de 1930, pois lances absolutamente impressionantes foram efetivados nas mais intensas batalhas ocorridas no ensejo da guerra de Princesa.

*José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.


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2 respostas para “A vila de Tavares e a Guerra de Princesa”

  1. Sueleide Alves disse:

    Orgulho de ser Tavarense

  2. Lourdes Vitalino disse:

    É por essas e outras que me orgulho de ser princesense!!!!

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