sáb
27
ago
2022

Parlamento francês_Agência Brasil
Parlamento francês (Foto: Agência Brasil)

Companhias fornecedoras de energia, combustíveis e transporte marítimo têm lucrado com a crise energética desencadeada pela guerra na Ucrânia.

RFI – O Parlamento francês decidiu analisar em tramitação acelerada um projeto de lei de criação de um imposto excepcional para empresas que têm registrado lucros exorbitantes em meio à crise energética, enquanto a população sofre com a escalada da inflação.

Os relatores do projeto visam três setores em particular: empresas fornecedoras de energia, combustíveis e transporte marítimo. São companhias que se beneficiaram da recuperação econômica pós-pandemia e agora têm lucrado com a crise energética desencadeada pela guerra na Ucrânia.

A petrolífera francesa TotalEnergies, por exemplo, teve um lucro líquido de € 5,7 bilhões no segundo trimestre do ano, quando o preço do combustível na bomba já estava nas alturas e muita gente se questionava se enchia o tanque do carro para ir trabalhar ou a geladeira.

O ministro da Economia e Finanças, Bruno Le Maire, discorda da ideia de taxar as empresas do setor de energia. Ele alega que elas precisam ter reservas para reinvestir em projetos de transição para fontes renováveis. A questão é que essas gigantes também distribuem milhares de euros em dividendos a seus acionistas.

Desde que os preços do petróleo e do gás dispararam, o Reino Unido, a Itália e a Espanha adotaram um imposto extra de 25% sobre as empresas desse setor. O secretário-geral da ONU, António Guterres, chamou de "imoral" o lucro que essas companhias têm acumulado nas costas dos consumidores. Os franceses estão pagando a eletricidade sete vezes mais caro atualmente do que no início do ano.

Para reduzir o impacto social da crise energética, o governo francês optou por outra estratégia. Decidiu subsidiar € 0,18 centavos no litro dos combustíveis e congelou temporariamente as tarifas do gás. Com isso, já gastou mais de € 20 bilhões em poucos meses, em uma política considerada onerosa para os cofres públicos e injusta socialmente, na medida que o desconto também beneficia quem pode pagar. Essa estratégia não é sustentável a longo prazo, principalmente porque os preços da energia vão continuar a subir com o embargo ao petróleo russo e à drástica redução das exportações de gás impostas por Moscou.

Esta semana, o presidente Emmanuel Macron quis preparar os franceses para tempos difíceis, "de grande mudança". Ele disse que a era da "abundância" e da "despreocupação" tinha chegado ao fim. Mas essa declaração teve péssima repercussão.

Macrou se referia à série de crises que a França e a Europa atravessam: as consequências da guerra na Ucrânia, a seca prolongada, que vai comprometer a próxima safra agrícola, encarecendo ainda mais os alimentos, e as medidas de combate à mudança climática, que os incêndios deste verão mostraram ser urgentes.

Entretanto, ele foi apontado como um líder "desconectado" da realidade, lembrando aquela imagem de "presidente dos ricos", que retorna das férias num castelo no sul da França e avisa que a vida da população vai ficar muito pior.

O deputado comunista Fabien Roussel, que disputou a presidência, disse que é "inadmissível cobrar mais sacrifícios de pessoas que tentam viver dignamente com um salário". "Para a grande maioria, o problema não é a abundância, é a falta", afirmou o deputado. "Não é um descuido, é uma preocupação com a geladeira vazia", destacou Roussel. Nas redes sociais, internautas também criticaram Macron.

O líder da central sindical de trabalhadores CGT, Philippe Martinez, disse que abundância "é a situação que o presidente desfruta, assim como seus amigos", muito distante da realidade de milhares de cidadãos.

O governo se recusa a abrir negociações de aumento de salários, e ainda pretende propor reformas para dificultar as condições de acesso ao seguro-desemprego e ampliar a idade mínima da aposentadoria dos atuais 62 anos para 64 ou 65 anos.

Dívida e cenário alarmista

A França tem uma dívida que chegou a 112% do PIB no mês de junho, equivalente a € 2,9 trilhões. O Estado gasta mais do que arrecada, com um déficit público de 5,5% do PIB. O presidente sabe que a era dos juros baixos acabou e precisa exercer maior controle sobre as contas públicas. Porém, cortar gastos em um cenário de provável recessão, de casa fria no inverno e ainda por cima ameaça nuclear da Rússia complica a margem de manobra de Macron.

Muitos franceses têm reclamando de uma sensação de "fim do mundo". O risco de acidente nuclear na central ucraniana de Zaporíjia, ocupada pelas tropas russas, acrescenta tensão no dia a dia. Alguns políticos têm dado declarações alarmistas, dizendo que a atual crise é sem precedentes.

Este momento grave e de incertezas não é bom para a economia. As pessoas precisam de confiança no futuro para continuar a trabalhar e a consumir. Esse foi um outro aspecto criticado na declaração do Macron. A imprensa inglesa disse que ele quis se proteger do balanço ruim que deve deixar para o sucessor.

Brasil 247


  Compartilhe por aí: Comente

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *



Ir para a home do site
© TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. É PROIBIDA A REPRODUÇAO PARCIAL OU TOTAL DESTE SITE SEM PRÉVIA AUTORIZAÇAO.
Desenvolvido por HotFix.com.br