sáb
08
mar
2014

“Quem já atirou com um fuzil de ferrolho sabe que o funcionamento da arma é lento”

Otávio Sitônio Pinto*

John Kennedy, o presidente que deu início à Guerra do Vietnam e que autorizou o desembarque da Baía dos Porcos, em Cuba, e que se empenhou na conspiração do Golpe de 1964, no Brasil, morreu em 1963, em circunstâncias nunca explicadas satisfatoriamente. Querem os investigadores oficias que o assassinato do presidente tenha sido obra de um só homem, o solitário Lee Harvey Oswald; que a execução de Lee Harvey, ocorrida dois dias depois da morte de Kennedy, tenha sido uma iniciativa do também solitário Jack Ruby, cabaretier e araque, ligado à polícia e à máfia; e que o assassinato de Bob Kennedy, irmão do presidente morto, o duro Bob, favorito nas eleições presidenciais de 1968, tenha sido um atentado individual do árabe Sirhan Bishara Sirhan.

Três atentados individuais: o de Lee Harvey, o de Jack Ruby, o de Sirhan Bishara, sem qualquer conexão entre si. Perguntei ao meu grande amigo Ivo Bichara se concordava com essa imputação ao seu parente e ele me respondeu que não daquela maneira, que Sirhan nunca teria condições de se achegar ao candidato, driblando sua guarda pessoal e a escolta do FBI – que companha os candidatos à presidência dos EUA. Inda mais usando um revólver 22, bala U. Seria muito fácil adquirir, nos Estados Unidos, uma arma potente, um magnum 357, por exemplo, daqueles que mais tarde mataria o árabe-cearense-paraibano, o vice-governador Raymundo Asfora. Sirhan jamais mataria sozinho o favorito às eleições presidenciais dos Estados Unidos, atirando à queima-roupa no homem que iria descobrir os mistérios da morte de John Kennedy. Ivo Bichara sabia das coisas. Ele descobriu uma alternativa para o penúltimo lance da partida de xadrez entre Spassky e Bobby Fisher, vencida por Fisher em 1972, alternativa em que Spassky ganhava. Joguei com Ivo e sei do que ele era capaz.

Todas as pessoas envolvidas direta ou indiretamente na morte de John Kennedy tiveram morte violenta; o número passou de 40. Entre eles, o motorista da limusine presidencial, William Greer, agente da CIA, que morreu dias depois do atentado, e que era um dos suspeitos de participar do complô (sua morte aumenta as suspeitas). Quem já atirou com um fuzil de ferrolho sabe que o funcionamento da arma é lento. Principalmente se o fuzil for de um calibre militar, como o Mannlicher Carcano 6.5, apontado como a arma que Oswald usou para matar o presidente. Além do manejo há o coice da arma, que tira o fuzil de mirada. Se a arma tiver mira telescópica, a demora em fazer nova mirada será maior. No caso Kennedy, o(s) atirador(es) estaria(m) a 60 metros do alvo, e este em movimento, num carro aberto – ao qual não quiseram colocar a cobertura de plástico transparente, à prova de balas, similar a que se usa no papamóvel (Kennedy era católico), dispensada por sugestão da assessoria.

“Ad argumentandum”, o primeiro tiro não seria de todo impossível de um atirador mediano acertar, embora muito difícil, mas o seguinte, não. A arma saiu de mirada com o coice, a manobra do ferrolho e o alvo em movimento. Para acertar o segundo tiro, seria necessário que Oswald fosse um atirador excepcional, equipado com uma boa arma, semiautomática, e não um pobre bode expiatório, um otário teleguiado pela CIA (Ivo Bichara concordou comigo). Se Oswald também atirou, seu tiro foi aquele que acertou o governador do Texas, John Connely, que estava no banco da frente.

Não sei como não disseram que John Kennedy suicidou-se, como disseram de Getúlio Vargas e de Raymundo Asfora. A bala que matou Getúlio sumiu, a que matou Asfora sumiu também, a de Kennedy também sumiu. Só acharam a bala que acertou o governador John Conelly, dentro do corpanzil do texano, vivo. As balas que matam pessoas ilustres são difíceis de achar. Quinta-feira fez 27 anos da morte do vice-governador Raymundo Asfora. A Justiça entendeu que houve homicídio, mas não identificou os homicidas, e, assim, não condenou ninguém. Como no caso Kennedy e no caso Vargas, no caso Asfora ninguém foi condenado. Ivo Bichara concordou comigo: ele conhece o xadrez da vida.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.


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