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20
mar
2014

“Os intrujões vão ter de justificar o movimento de entrada e saída do capital na sua conta bancária”

Otávio Sitônio Pinto*

Só vai ficar a moedinha do par-ou-ímpar da escolha de campo nos jogos de futebol. O juiz joga a prata pra cima, apara no dorso da mão e vê se deu cara ou croa. O níquel vai dizer de qual lado vai jogar o Vasco ou o Flamengo e quem vai tirar o centro. Quando o Brasil levou o primeiro na final contra a Suécia, em 58, Didi apanhou a bola nas redes e disse para Vavá: “tire o centro para mim.” O grande armador esticou a bola para Mané, lá na ponta direita. Garrincha estraçalhou a defesa dos suecos e o gol do empate saiu, marcado por Vavá.

Na Copa que está para vir, quem vai fazer aqueles lançamentos certeiros, de longa distância? Hulk lançou Fred com um passe de 42 metros, no jogo com a África do Sul. Prefiro dizer assim: “com”, em vez de “contra”. Como nos casamentos: Fulano se casou com Fulana, e não contra Fulana – embora às vezes seja.

Mas o pessoal do Pacto da Segurança Social (Passo) quer acabar com as moedas, sejam de papel ou de metal. Só vai ficar vogando a moeda virtual, aquela do extrato bancário, da transferência no computador ou no celular. Dia desses vi um sujeito comprar um cacho de pitombas e pagar usando o celular do pitombeiro, transferindo 50 centavos de sua conta para o vendedor de frutas.

Essa iniciativa do Passo é uma boa ideia. A moeda vai ficar rastreada, a Receita e o Banco Central vão ficar sabendo de onde saiu e onde entrou o pagamento. Em primeiro lugar, desaparece a sonegação. Depois, desaparece o roubo: se o assaltante fizer uma saidinha na porta do banco, e obrigar a vítima a fazer uma transferência para ele, a operação criminosa vai ficar registrada. A autoridade vai saber quem deu e quem recebeu. Não há moeda para lalau levar.

O mesmo acontecerá com a economia do crime. A transação feita na boca de fumo vai aparecer: quem comprou e quem vendeu o bagulho vai ter o seu CPF gravado, contabilizado. O mesmo acontecerá com toda atividade marginal. Não adianta o bandido roubar um carro, pois ficará muito difícil ele vender o produto do roubo. Os intrujões vão ter de justificar o movimento de entrada e saída do capital na sua conta bancária.

E os turistas estrangeiros? Como vão pagar suas despesas?

Com um cartão pré-pago. Quando ele for embora receberá o troco, se ainda tiver saldo. E as moedas estrangeiras? Como impedir sua circulação? Com o confisco e a cadeia. Ai de quem for pego com dólar ou euro no bolso. O cidadão não vai querer receber moeda estrangeira, pois voltará o risco de ser roubado outra vez. Bom mesmo é ter dinheiro no banco, comprar e pagar sem pegar no vil metal e ter a certeza que nunca será roubado ou sequestrado.

Hoje, sem a implantação generalizada da moeda virtual, cerca de 30% do movimento comercial já é feito, com os cartões, a moeda de plástico. O cartão dá vez a atividade criminosa da clonagem, mas até isso desaparece com a moeda eletrônica obrigatória e generalizada – pois toda atividade econômica terá sua contabilidade. Será o fim do dinheiro sujo, do dinheiro na cueca.

Lembro-me das pratas de duzentos réis que ainda corriam no começo dos anos cinquentas. O cruzeiro foi lançado em 1942, mas as moedas miúdas continuaram vogando por mais algum tempo, pela necessidade do mercado, dependendo da boa vontade das partes. E o que fazer com a moeda velha, quando chegar o implante da moeda contábil? O freguês terá um prazo para depositar o papel-moeda e as pratas no banco. Todo mundo terá sua conta, sem talão de cheques, para evitar o pós-datado sem fundos. Para mim, que não tenho saldo, não faz diferença.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.


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