dom
01
jun
2014

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Por Wellington Pereira*

O novo romance do escritor paraibano Aldo Lopes de Araújo, que já circula nas melhores livrarias de Pernambuco e do Rio Grande do Norte, ‘A dançarina e o coronel, traz como cenário a mítica cidade paraibana de Princesa Isabel – que, na Guerra de Princesa, se tornou independente ante as exigências da República- e no talento narrativo de um dos mais profícuos romancistas contemporâneos. Em João Pessoa, o livro de Aldo circula entre amigos mais próximos -sobretudo aqueles que acompanham a trajetória literária desse Bacharel em Direito que, por força do destino e da memória espetacular, se tornou Delegado da Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Norte, aprovado, classificado e nomeado em concurso público. A violência do sistema (aqui poderíamos invocar Habermas ou Luhmann, cientistas sociais), enfrentada como um dos víveres cotidiano, não coibiu a força narrativa do neto de Mané Lopes Ronco Grosso, Comandante em Chefe do Exército de Princesa Isabel na Revolta de 1930. Mas a arma que Aldo domina com maestria é a palavra. Aldo Lopes escreve como que fala, ou melhor: fala como quem escreve. Dos confins de sua memória (talvez azeitada no tempo em que morou na Casa do Estudante em João Pessoa, na qual recitava os versos de Augusto dos Anjos de trás para frente; fazendo a alegria dos políticos que faziam populismo com os estudantes), Lopes recria personagens à margem da História e os coloca como tipos ideias para a compreensão deste Nordeste mítico, no qual a seca é pobreza sazonal, mas também mímese. Por que ler o romance de Aldo Lopes? Porque nele se encontra a simbiose entre a gramaticalidade da literatura urbana e a sonoridade da cultura oral, das imagens sonoras e das sonoridades imagéticas de nossos cantadores de viola. Ousaria dizer que a narrativa de Aldo de Araújo pede para que o leitor se situe numa outra margem dos realismos mágico e fantástico: o realismo mimético. Tudo é verdadeiro em seu romance, o que não é; se faz recriação. Isso faz de A dançarina e o coronel, Recife, Editora Bagaço, 2014, um Bildungsroman (romance de formação) de nossos alumbramentos com as magias entre o campo e a cidade, como atesta Raymond Williams, um dos principais críticos da literatura ocidental.

*Wellinton Pereira é professor da UFPB, PHD em Sorbonne III, França.


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