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18
jun
2014

“O gol de pênalti que beneficiou a equipe brasileira empanou o brilho da vitória”

Sitônio PintoOtávio Sitônio Pinto*

Há tempo que acho que deveria haver um quarto árbitro nas partidas de futebol, com a função de policiar a pequena área por ocasião das cobranças de escanteio. O quarto árbitro já existe, é o árbitro reserva. Pois ele deveria ir para dentro do gol determinado a ver quem agarra quem os momentos que antecedem a cobrança do tiro de canto. Essa medida diminuiria e muito o agarra-agarra de jogadores de defesa e de ataque na hora do “corner”, um segurando o outro para que não cabeceie a bola para o gol ou para fora dele.

A Fifa quer que o agarra-agarra culmine em penalidade máxima. Eu não havia pensado qual tipo de penalidade deveria ser aplicada. A máxima, que é o popular pênalti, pelo nome já está dizendo sua gravidade. Máxima é máxima. Foi o que foi aplicado contra a equipe da Sérvia no jogo de abertura desta Copa de 2014. Pênalti seguido de cartão amarelo. Um cartão que adquiriu cor de verde-amarelo aos olhos do espectador, pois beneficiou e muito a equipe brasileira. Entendo que o cartão amarelo era bastante, pois o próximo seria o vermelho e a consequente expulsão. O pênalti é quase um gol, o que influi decisivamente no resultado do jogo. É mais do que bastante, é excessivo.

O pênalti contra a Sérvia motivou até um comercial de TV, veiculado diversas vezes, onde o camisa 10 Neymar Jr foi o garoto propaganda. Neymar cobrou o pênalti e teve de justificá-lo à torcida, dizendo que não existia pouco pênalti ou muito pênalti. Há – pois aquele que deu o segundo gol ao Brasil foi seguido de um cartão amarelo, ou verde-amarelo. E há pênalti que é acompanhado do cartão vermelho. Nesse caso, o pênalti é mais gravoso de que o primeiro, pois resulta em expulsão de um jogador. Além do provável gol que sofrerá a equipe assim punida, além de contar com um jogador a menos. Está decretada sua derrota. Nesse caso, o pênalti foi mais pênalti – no dizer de Neymar Jr.

O gol de pênalti que beneficiou a equipe brasileira empanou o brilho da vitória. Ainda bem que houve o terceiro gol do Brasil, o que legitimou moralmente o resultado de 3 X 1. Mas o gol de pênalti influenciou psicologicamente os jogadores sérvios, o que pode ter contribuído negativamente para o desempenho da equipe visitante. O Brasil não precisa da ajuda de árbitros para vencer. A torcida entendeu isso, os comentaristas do jogo também, os cartolas da Seleção idem – tanto que providenciaram o comercial de Neymar Jr, no mesmo dia do pênalti, no mesmo dia do gol.

Eis um comportamento positivo do torcedor brasileiro diante da vitória facilitada. O povo não gostou. O povo torce, mas quer o jogo limpo. O mesmo povo que não aceita a despesa da Copa, dos estádios caríssimos que seu imposto suado tem que pagar – enquanto espera na fila do hospital a vez do atendimento. Na Suíça as vacas são atendidas em domicílio, por equipes transportadas de helicóptero. Se o mal-estar da vaca for caso de internamento, o helicóptero tem condições de levar dona rês até o hospital veterinário, onde será atendida na hora e gratuitamente.

Como em economia não existe almoço gratuito, esse atendimento já foi pago antecipadamente pelo cidadão contribuinte – que recolhe seus impostos com presteza e boa-vontade. O socorro da vaca, ou o socorro da família, a matrícula do filho na escola pública de excelente qualidade, tudo foi pago pelo contribuinte quando recolheu seu imposto. Ele sabe disso, e não sonega a contribuição devida. E cobra dos gestores públicos a contrapartida do Estado, o retorno social do tributo que pagou. E exige um helicóptero para transportar sua vaca indisposta para o hospital veterinário.

O povo brasileiro está começando a entender essa situação. E vai à rua reclamar o preço do estádio. Isso tem a ver com o gol de pênalti que ele, o povo, não aceitou. Tem ver com a expressão “bola roubada” que não deve fazer parte de nossa cultura. O povo não quer estádios nem pênaltis gratuitos, nem que roubem nossa bola. Um dia, vai saber que sua vaca tem direito a helicóptero para ir ao hospital, sem demora, com a precisão de um relógio suíço.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.


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