“Acredito que o principal ‘porquê’ foi a baixa de dois jogadores brasileiros”

Otávio Sitônio Pinto*

Depois do clister que levou das Alemanhas, Brasil vai pra casa. Mas antes ainda tem que cumprir tabela e disputar o terceiro lugar em Brasília, no Mané Garrincha. Vai cantar o Hino outra vez. Vamos por partes: a melodia do hino é muito bonita, da autoria do maestro Francisco Manuel da Silva. Marcha que emociona multidões, até torcidas de futebol. Sua letra é do poeta Joaquim Osório Duque Estrada. O Hino foi escrito em louvor da abdicação de Pedro I em favor de Pedro II.

Posteriormente, o Hino recebeu a letra atual e a oficialização por ato do presidente Epitácio Pessoa, que comprou os direitos autorais da peça por cinco contos de réis, por ocasião do Centenário da Independência. Bonita letra, como a melodia. Mas a peça foi executada ad nauseam pela indecente e recente ditadura militar. Nas cerimônias eu me sento na última fileira, na cadeira de acesso ao corredor, para evacuar se forem executar o Hino.

Na última sexta-feira, oito de julho deste 2014, executaram o Nacional no Estádio Mineirão, em Belo Horizonte, no jogo entre as seleções de futebol do Brasil e da Alemanha. Tocaram também o Hino da Alemanha, como é protocolar. Poucos foram os atletas que cantaram a letra de August Hoffmann, com melodia de Haydin. Os jogadores brasileiros botaram mais emoção na interpretação do Hino Nacional de Joaquim Osório e Francisco Manuel.

No tempo de Hitler cantavam a Canção dos Alemães com muito mais ardor. O hino é o mesmo, só mudou o entusiasmo. Mas o entusiasmo a menos, dos alemães, e a mais, dos brasileiros, não influenciou no resultado da partida: o grande clister de 7 X 1. Quais os porquês do escore? Foram vários; e vão ser apontados muitos bodes expiatórios nos dias, meses e anos que sucederão à data aziaga.

Acredito que o principal “porquê” foi a baixa de dois jogadores brasileiros: Thiago Silva e Neymar. O zagueiro Thiago figurava como o quarto jogador no ranking da Fifa, e o atacante Neymar como o sétimo. Suspenso, Thiago não jogou. Foi inútil o recurso que o Brasil interpôs no tapetão da Fifa, alegando que Thiago não cometera a falta imputada. O zagueiro ficou fora da competição, o que fez muita falta, pois era o principal defensor e o capitão do time.

E o Brasil foi a campo sem os dois principais atletas de seu plantel. Eu disse isso na crônica da véspera, terça-feira, “Onças da Fifa”: se você não leu, pode acessar “Jornal a União” e chamar a edição do dia oito. Tá lá. Eu estava apreensivo quanto ao jogo. Na entrada das equipes em campo, procurei ler a expressão dos atletas brasileiros. Acredito que as caras das pessoas traduzam o conhecimento do inconsciente. O semblante dos brasileiros não demonstrava emoção positiva.

Quanto aos bodes: o lateral Marcelo não foi feliz nesta Copa. Fez um gol contra no primeiro jogo e cedeu o escanteio que deu vez ao primeiro gol dos alemães. Até aí, o Brasil jogava com alguma vantagem. Mas o gol inesperado abalou o ânimo da equipe, já nervosa com as defecções sofridas. Quando aconteceu o segundo gol, o time desmoronou – como nunca se viu no Brasil e quiçá no mundo. Foi uma sequência de golos numa equipe totalmente perdida em campo.

Mais bodes: os atacantes Hulk e Fred não marcaram durante o certame. O artilheiro Hulk não marcou nenhum golo; e o centroavante Fred só marcou um golo, no começo do campeonato. Mesmo no penúltimo e antepenúltimo jogo quem marcou para o Brasil foram os zagueiros Thiago e André. Nem Neymar fez golo. E a contusão de Ney quebrou a espinha dorsal da Seleção. Outro bode: o Brasil ressentiu-se da armação que não teve. Resultado: vai para casa. Ainda bem que é perto.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.