sáb
09
ago
2014

O músico argentino Ignacio Hurban, neto da presidenta da organização Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, encontrado após 37 anos de buscas
O músico Ignacio Hurban, neto da presidenta da organização Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, encontrado após quase 37 anos de buscas

O músico argentino Ignacio Hurban apareceu em público ontem (8) pela primeira vez desde que descobriu sua verdadeira identidade: é filho de desaparecidos da ditadura argentina (1976-1983) e neto de Estela de Carlotto, a presidenta da organização Avós da Praça de Maio. “Estou um pouco emocionado porque soube da notícia há pouco tempo, mas estou extremamente feliz e me sinto feliz por ver a felicidade dos outros”, disse, em entrevista coletiva lotada de jornalistas, parentes e outros netos desaparecidos.

Ignacio Hurban – ou Guido Montoya Carlotto, nome dado pela mãe, Laura –  é o neto número 114 recuperados pelas Avós da Praça de Maio.

A organização foi criada por mulheres cujos filhos estão entre os trinta mil desaparecidos da ditadura argentina, entre eles, os pais do músico encontrado esta semana.  Os militares sequestravam os ativistas e, em vez de julgá-los, os levavam para campos clandestinos de detenção. A maioria foi assassinada, sem que a família soubesse como nem onde, mas alguns sobreviveram para contar a história.

Foi assim que as Avós da Praça de Maio ficaram sabendo que cerca de 500 crianças nasceram em cativeiro e, depois de terem suas identidades alteradas, foram dadas ilegalmente em adoção, muitas vezes a famílias ligadas ao regime militar.

No entanto, esse não foi o caso do neto de Estela de Carlotto, que disse preferir manter o nome que usou durante 36 anos: Ignacio. Ele contou que teve uma “infância extremamente feliz”. Foi criado como filho único, no interior da província de Buenos Aires, por um casal que trabalhava para um fazendeiro.  Há pouco tempo soube que tinha sido adotado, mas há muitos anos desconfiava de suas origens.

Ele não deu detalhes sobre o que o fez buscar as Avós da Praça de Maio para investigar se era filho de desaparecidos. Ele disse que precisa de tempo para processar a notícia, mas quis contar o que sentia para animar outros argentinos que têm a mesma dúvida que ele a buscar a organização. “É importante construir a memória coletiva da Argentina”, disse.

A história de Guido (Ignacio)  foi reconstruída a partir de relatos de sobreviventes, que conviveram com Laura Carlotto no centro clandestino de detenção La Cacha, na província de Buenos Aires.  Alcira Rios esteve presa com Laura, quando ela já estava detida há dez meses. Laura foi sequestrada pelos militares em Buenos Aires, quando estava grávida de dois meses, junto com o companheiro dela, Walmir Montoya, que foi fuzilado no final de 1977.

Levada a um hospital militar, Laura deu à luz um menino no dia 26 de junho de 1978. Ela chamou o filho de Guido, em homenagem a seu pai, mas só pode ficar com a criança por cinco horas. O bebê foi levado e estava desaparecido até esta semana, quando um teste de DNA revelou sua verdadeira identidade.  Trinta e seis anos depois, o músico Ignacio, que sempre pensou ser filho de Juana e Clemente Hurban, descobriu que seus verdadeiros pais estavam mortos e eram integrantes do grupo guerrilheiro Montoneros.

Agência Brasil


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