sáb
11
out
2014

“Os antigos queimavam cascas secas de laranja; diz-se que não fica nem uma muriçoca, elas vão embora para a casa do vizinho”

Sitônio PintoOtávio Sitônio

As muriçocas que estão atacando a cidade parecem com os eleitores de Aécio Neves. Eles não apareciam nas pesquisas, era como se não existissem. De repente, na apuração, os eleitores de Aécio botaram a cabeça de fora e quase dão a vitória para o neto de Tancredo já no primeiro turno. Como é que os institutos de pesquisa não perceberam essa tendência do eleitorado? É verdade que nos últimos dias que antecederam ao pleito os números de Aécio apresentavam uma reação, mas não no nível que as pesquisas apontaram.

Parecia coisa feita, adrede planejada. A quem interessava a ocultação dos votos de Aécio? Seria para dar vez a uma recuperação de Marina? Alguém que estivesse torcendo pela menina morena e tentasse sufocar os votos em ascensão de Aécio para que a moça do Acre se recuperasse? Difícil pensar como o Acre, um pequeno estado brasileiro, perdido no pé de serra dos Andes, elegesse uma presidenta da república. Não é nem um presidente: é uma presidenta, como quer a atual. Um país machista e racista ser governado por unha mulher amazona é pedir muito ao eleitor.

Por que as mulheres não se organizam para votar só em mulheres? Elas são a maioria e o voto é secreto, como é o chifre. Algumas traem o marido e o chifre não aparece. O mesmo poderiam fazer com o voto. De repente elegeriam uma candidata que nem estava nas pesquisas. Mas elas preferem votar nos homens, que horror. Isso é um indicador que a cultura, a sociedade, os valores são machistas. As próprias mulheres votam contra elas mesmas. E isso é no mundo todo, não é só na taba de Iracema. Apenas uma pequena minoria de gestoras governam o mundo. Veja-se a Itália, França, China, EUA e seus governos machistas. Poucos são os países governados por mulheres.

Eu dizia aos íntimos que não me surpreenderia se o candidato Aécio aparecesse em segundo lugar ao fim do primeiro turno. Mas ele me surpreendeu, pois quase aparecia em primeiro. Eu disse ao analista político Agnaldo Almeida que a votação de Aécio, não prevista pelas pesquisas, parecia uma coisa deliberada pelas próprias pesquisas, para não chamar a atenção para a ascensão do mineiro e ele pudesse pegar a adversária de surpresa.

Não mais que de repente, uma nuvem de votos cobriu o país em favor do neto de Tancredo. Será que a cigana se enganou com a previsão de um Neves para a presidência da república? Esse povo fala por metáforas e símbolos. Vai ver que ela disse que “as neves de Minas vão cobrir o Planalto”. Pensaram que era Tancredo, mas a glória dele durou poucos dias. Eis que está pintando um neto da raposa mineira ocupar a presidência do Brasil.

É o que parece dizer o zumbido das muriçocas em torno da minha rede. Elas não se contentam apenas em zumbir. Ferroam através do pano grosso da rede e da minha camisa. Ligo dois ventiladores no quarto e eles não espantam as murunhonhas. O jeito vai ser ligar o ar condicionado, equipamento que não tem a minha simpatia. Os antigos queimavam cascas secas de laranja; diz-se que não fica nem uma muriçoca, elas vão embora para a casa do vizinho.

Liguei para o analista político Agnaldo e ele está com o mesmo problema, pior ainda porque mora perto do rio. As muriçocas apareceram em nuvens, como os eleitores de Aécio. Anos atrás alguns cientistas tinham conseguido botar um cromossomo “y” a mais em muriçocas machas. Um bicho com um cromossomo “y” a mais se torna mais agressivo em todos os aspectos, inclusive sexual. Ele fecunda mais fêmeas que seus concorrentes. E as fêmeas vão gerar somente machinhos, todos com um cromossomo “y” a mais. Em breve a colônia terá somente machos e se extinguirá.

Mas os serviços de saúde pública nunca tomaram essa providência. Não falta quem diga que é para não prejudicar a indústria de inseticidas. E o jeito é aguentar as muriçocas atacarem noite e dia, em cima da cama, dentro da rede e debaixo das mesas. Vou apresentar este pleito a algum candidato a presidente: dotar as muriçocas com um cromossomo “y” a mais. Só não dá mais tempo para se fazer isso com os eleitores de Aécio.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.


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