dom
07
dez
2014

Seu Nezim Francelino gostava de declamar “Bandeira Loira” depois de ingerir algumas meiotas na bodega de Adauto. Declamava com tanto garbo que chamava a atenção dos passantes. Era assim Princesa, cheia de declamadores. João Rodrigues, que também já morreu, não perdia uma vírgula das poesias que dizia na esquina do Forum para uma plateia abestalhada, vidrada, cheia de encantos.

São essas lembranças de Princesa que me chegam agora quando sento diante do computador para expressar a tristeza que bate no peito ao ver minha cidade demolida pela sanha insensível dos progressistas meia cuia.

Primeiro ruiu a igreja, centenária, de vários altares, para dar lugar ao quadrado insosso construído por Frei Anastácio, um vigário radical e megalomaníaco, que, para mostrar serviço, botou os tratores da Prefeitura pra cima da velha igreja sem dó nem piedade.

Ora, se o padre podia, os outros se acharam no direito de também poder. E destruíram tudo o que havia de bonito em Princesa.Da rua Coronel Marcolino, principal artéria da cidade, ficaram apenas os sobrados de Antonio Maia e Aderbal, o porão de Manezim Pereira, a frente da casa de azulejo dos Pereira e os dois casarões de Miguel Rodrigues e Antonio Maia. O resto sumiu. Quem esteve em Princesa há 40 anos e volta hoje,encontra tudo mudado, tudo diferente, mudado para pior.

A casa grande da esquina da igreja onde antes funcionou a coletoria, deu lugar a um prédio feio e rabugento. Da rua de Antonio Eugenio não sobraram nem as máquinas de datilografia. Até o silo de Zé Pereira foi emparedado.

E a velha Lagoa da Perdição virou praça, praça da gala, da cachaça e da muamba.

E é porque o centro de Princesa é considerado sitio histórico por um Iphaep mais ineficiente do que a saúde pública. Desrespeitaram a lei e ficou por isso mesmo.

Sim, resta o sobrado de Zé Pereira. Mas resta por enquanto. Do jeito que vai, vira escombro já já.

Blog do Tião Lucena


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2 respostas para “Do Blog de Tião Lucena: O que restou de Princesa”

  1. Gostei da narrativa. Não do resultado dela, mas do jeito melancólico com que você contou a destruição de Princesa. “Eita pau pereira. Que em princesa já roncou…”

    Um forte abraço!

  2. Em família disse:

    QUE RUA ERA ESSA DA FOTO

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