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18
dez
2014

“Os tantos e santos heróis que morreram no Morro dos Guararapes mereciam mais a homenagem no seu anonimato”

Sitônio PintoOtávio Sitônio

Enquanto escrevo estas mal traçadas o Congresso nacional decidirá duas coisas: uma, se o deputado Jair Bolsonaro será julgado pela Comissão de Ética; outra, se o cidadão brasileiro voltará a ter o direito de possuir uma arma para defender sua vida, sua família, sua casa e seu país. Como e por que seu país? Porque o povo é a reserva do exército. Foi do povo que o exército brasileiro nasceu, na guerra para a expulsão dos holandeses. Não foi o Estado que expulsou a Companhia das Índias Ocidentais do território brasileiro, mas o povo nordestino.

Portugal estava sob a coroa espanhola, e o Nordeste teve de se virar praticamente só. Aliás, a Companhia das Índias Ocidentais invadiu o Nordeste mais como uma agressão à Espanha, com quem a Holanda não se dava bem. Fosse ainda Portugal o dono do Brasil e a invasão holandesa não teria se dado. O jeito foi o povo do nordestino pegarem armas contra os flamengos e fazer a sua guerra santa. Pois a expulsão dos invasores holandeses foi uma guerra santa, na visão de Gilberto Freire. O invasor era protestante, falava outra língua, tinha cabelos vermelhos. Haja guerra.

Os holandeses não demoraram nem vinte anos no proeminente nordestino, foram expulsos pelo exército tricolor: amarelo, preto e branco, dizem os cronistas históricos. Eram os índios, os africanos e os colonos portugueses unidos contra o invasor batavo, até a batalha final dos Guararapes. Batalha que deu nome ao aeroporto internacional do Recife, o Gilberto Freire de hoje. Entendo que os tantos e santos heróis que morreram no Morro dos Guararapes mereciam mais a homenagem no seu anonimato, por mais ilustre que seja o autor de Casa Grande & Senzala.

Os flamengos não demoraram nem vinte anos, mas deixaram seu cabelo vermelho que de vez em quando encontramos na cabeça do povo. Se bem que Portugal também tinha seus ruivos, vide o retrato de Dom Sebastião. Mas o sangue batavo ficou diluído na raça nordestina, por força, dizem, dos estupros frequentes praticados pelo invasor solteiro – pois os gringos não trouxeram mulheres da Holanda, por cima do mar, nos navios de pau e pano, para este outro lado do mundo, face oculta do planeta e da Lua. E se viraram com as mulheres da terra, guerra é guerra.

Será que Bolsonaro é da Companhia? O deputado afirmou que não estuprava a deputada Maria do Rosário (PT – RS) porque ela não merecia. Alguém merece ser estuprada? Quem? A mãe de quem? O deputado foi réu confesso: sem ninguém lhe perguntar, admitiu que faria um estupro se achasse uma vítima merecedora. A deputada gaúcha não era. Não merecia, ou não fazia o gênero do deputado. O que será que a Câmara decidiu? O resultado deve estar nas páginas da edição de hoje, poderá passar às páginas da História. Será que o estupro se realizaria na própria Câmara, sob as vistas do Senhor Presidente?

A Câmara deve ter decidido, ontem, o direito do povo se armar para sua defesa e defesa do País, como reza a segunda emenda da Constituição norte-americana. A primeira constituição da História, proposta para a revolução da Independência. Dizem que revolução é a substituição de uma classe por outra; pois foi o que aconteceu nos Estados Unidos. A aristocracia da Inglaterra foi substituída pela burguesia da América, numa guerra que tinha por proposta uma carta constitucional, finalizada e referendada na carta da Pensilvânia, depois que o povo venceu o conflito.

O povo que ganhou o direito de se armar e se organizar para defender a democracia e o país que construiu, segundo a segunda emenda constitucional. O povo brasileiro não sabe o que é isso. O Estatuto do Desarmamento deixou o povo de Pindorama desarmado diante do Estado armado, o mesmo estado que deu o golpe da Independência, da República, de 1930, de 1935, de 1945, de 1964, de 1968, e o golpe do Desarmamento – o golpe dos golpes, que deixou o povo à mercê do estupro histórico, que pode acontecer a qualquer momento.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.


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