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01
set
2015

Janot bem que podia acionar Fernandão por essa injúria contra ele e a mãe dele

OTÁVIO SITÔNIOOtávio Sitônio Pinto

Durante a ditadura milicar [sic] era difícil um repórter aproximar-se do ditador de plantão e lhe perguntar alguma coisa. Essa autoridade era cercada por forte segurança, que não deixava nem as raparigas tomarem chegada junto ao gorila; muito menos um profissional da Imprensa, que era vista como inimiga do sistema. Os seguranças simplesmente chutavam as canelas e os tornozelos dos repórteres, o que não aparecia no foco das câmeras. Esse procedimento foi herdado pela guarda de alguns substitutos da ditadura. Parece que desapareceu.

Não sei como o repórter (da Folha de São Paulo?) conseguiu furar a segurança e se aproximar do presidente. O foca foi logo dizendo: “o que é que você vai fazer com relação ao problema …” o presidente [Collor] cortou o barato dele, com uma resposta incisa, disparada no meio da pergunta: “ você o meu caral…!”. Havia câmeras e gravadores no entorno, e a resposta foi para o ar em rede nacional. Você se lembra? Foi no Amazonas, já perto da cassação de Fernandão. Esse reagiu que nem o grande rio nas marés cheias, numa pororoca.

Não me admirei, portanto, quando Fernandão chamou o Procurador Geral da República de FdP, do alto da tribuna do Senado. Chamou por entre dentes, enquanto lia seu discurso, tentando rebater os argumentos do procurador Rodrigo Janot, quando este fez a denúncia do senador junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). E a réplica de Collor foi ao ar em rede nacional. Um desrespeito à genitora de Janot, quiçá morta. Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, também denunciado, foi mais sensato: ele pedira ao presidente do Supremo para ser julgado por esse tribunal, e não pela primeira instância da Justiça Federal, ou seja, pelo juiz Moro, como um réu comum.

Cunha tentou pôr em cheque a isenção e credibilidade da justiça comum, alegando que o foro federal e a PGR não tinham isenção nem para denunciá-lo nem julgá-lo, a ele que é deputado federal e presidente de um dos poderes. Mas Cunha, que tem fama de temperamental, não chamou a ninguém de FdP, pelo menos diante das câmeras ou de gravadores. Uma vez fizeram isso comigo: um deputado estadual, na tribuna da Assembleia, disse alhos e bugalhos contra minha pessoa.

Eu pedi uma cópia de seu discurso à taquigrafia da Assembleia – que relutou em dar, mas deu – e entrei com uma ação civil indenizatória contra o deputado, por danos morais. Depois de catorze anos de uma longa batalha judicial, o orador, condenado a me indenizar, pagou. O mesmo acontecera com o deputado e padre Luiz Couto: ganhou uma ação indenizatória contra outro deputado que esculhambara com ele.

Janot bem que podia acionar Fernandão por essa injúria contra ele e a mãe dele. Fernandão não respeita mesmo a memória dos mortos: tentou invocar um irmão do Procurador Janot, morto há cinco anos, para a sabatina no Senado sobre a pessoa e os conhecimentos do doutor Janot (e de seus familiares). O senador de Alagoas foi rebatido pelo procurador Geral, que não aceitou a provocação nem a inclusão desse tema no debate.

O País de lembra quando o então presidente Collor (antes de ser cassado pela primeira vez) disse à Nação que tinha “aquilo roxo”, em alusão à cor de sua anatomia entre as pernas. “Aquilo roxo” é, no Nordeste, indicativo de coragem nos cabras machos. E o presidente da República de Alagoas era filho de um nordestino, embora fosse carioca de nascimento, pois nasceu na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, quando seu pai era senador e a capital era o Rio. Foi numa discussão entre o senador Arnon de Mello (pai de Fernandão) e o senador Silvestre Péricles que se deu o homicídio. Houve troca de tiros entre Arnon e Silvestre, e o suplente de senador José Kairala, que tentava apartar a briga, foi atingido por Arnon. E morreu. Os dois brigões foram absolvidos.

Vejamos se, na Lava jato, algum rufião será condenado.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.


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