Xixico (sanfona) com os irmãos João (triângulo) e Antônio Pinheiro (zabumba), durante confraternização forrozeira em 6 de julho de 2014, em Princesa Isabel
A morte do sanfoneiro Francisco Barbosa da Silva, mais conhecido como Xixico do Gavião, deixou Princesa Isabel e o forró em luto.
Xixico, de 58 anos, foi encontro morto por volta das 15h da quarta-feira (16), em decorrência de um infarto agudo do miocárdio, nas proximidades de sua residência, na comunidade rural Serra do Gavião, onde era agente comunitário de saúde.
Ele saiu de casa às 5h para cuidar do pequeno rebanho que criava, mas demorou a regressar e não atendia as ligações do celular, o que causou estranheza e apreensão entre familiares e amigos, que fizeram buscas e o encontraram já sem vida.
O velório aconteceu na residência da família. De lá, o corpo foi levado para o cemitério público municipal Campo Santo, onde foi enterrado às 11h30 dessa quinta-feira (17), sob forte comoção pública.
Uma multidão acompanhou toda a cerimônia, que fez a homenagem final com a execução, em carro de som, de repertório instrumental de Luiz Gonzaga, ídolo do instrumentista princesense.
Xixico era casado com Irene Barbosa da Silva (49) e deixou três filhos – José Thiago (29), Maria Regina (25) e Raíla Barbosa (13).
Amigos, jornalistas e escritores, entre outros, lamentaram a morte do sanfoneiro, um dos ícones regionais do autêntico forró-pé-serra, que animava a todos com sua sanfona, que aprendeu a tocar na adolescência.
Para Antônio da Silva PInheiro (Toinho de Zé Pinheiro), princesense, oficial de justiça radicado em João Pessoa, “além de grande amigo, grande sanfoneiro, Xixico era um pai de família e cidadão exemplar”.
Pinheiro disse que costumava ‘fazer forró’ com Xixico na Serra do Gavião e na cidade há décadas, prologando uma amizade familiar. “Nossa amizade remonta aos nossos pais. Brincava com ele, sempre, dizendo que era o sanfoneiro oficial do meu ‘Trio Forrozeiro BBC – Banda Bafo de Cana’”, contou.
Segundo o engenheiro agrônomo e protético César França, amigo e ex-vizinho de propriedade rural do sanfoneiro, “Xixico era só alegria e companheirismo, um homem de bem, dedicado à família, de uma simplicidade sem igual”. “Era o sanfoneiro mais popular de Princesa Isabel, requisitado por todos”, completou.
O jornalista e escritor princesense Sebastião Lucena, de volta à cidade no dia da morte do sanfoneiro registrou, em nota comovida publicada no seu Blog, que “Xixica era alegria e sem Xixica foi simbora a alegria na alegre Serra do Gavião de nossas infâncias, farras e brincadeiras”. Na sequência das homenagens, o também princesense, jornalista e poeta Miguel Lucena (Miguezim de Princesa), irmão de Tião, expressou em versos seu tributo a Xixico.
Miguezim de Princesa
Quando Xixica morreu,
Fez um sol avermelhado,
A plantação do roçado
Ficou triste e se encolheu,
O passarinho “chofreu”
Não cantou mais no sertão,
Silenciou o baião
Que animava o ranchinho:
O fole chora baixinho
Na Serra do Gavião.
As meninas dançadeiras
Guardaram a roupa de chita.
Na rua de Mané Pitita
Não teve mais saideira,
Se se ouvia a choradeira
Pela Rua do Cancão,
As lágrimas molharam o chão
Ressequido do caminho:
O fole chora baixinho
Na Serra do Gavião.
Uma sanfona pendurada
No armador da parede,
No alpendre uma rede
Que ainda ficou armada,
Uma nota rabiscada
Compondo um novo baião,
Um pandeiro, um violão
E um conjunto sozinho:
O fole chora baixinho
Na Serra do Gavião.
Lá bem no alto da serra,
Pisca à noite um pirilampo.
É Xixica pelo campo
Trazendo luz para a terra.
Se alguém a vereda erra,
É só seguir a canção
Que o pulsar do coração
Nunca erra de caminho:
O fole chora baixinho
Na Serra do Gavião.
Abaixo, mais imagens do ‘forrofiado’ do Trio BBC, na residência da família Pinheiro em Princesa Isabel, em julho do ano passado:
(PS.: Com a família Pinheiro e Rivaldo de Paulo de Chico Preto (Dr. Rivaldo), entre outros, realizamos muito pé-de-serra com Xixico, desde o início dos anos 1980. É óbvio que também participei desse encontro musical, daí o registro fotográfico. Agora, companheiros e admiradores de Xixico são outros, mais seletos. A nota aqui é de tristeza, mas lá, onde Xixico possivelmente toca, é só acorde celestial, a mais pura harmonia).
VÁ COM DEUS CHICHICO, A “BBC” ESTÁ DE LUTO.
Passado alguns dias mesmo assim não consigo esquecer a viagem
prematura do nosso amigo Chichico do Gavião, que partiu para
eternidade para junto aos nossos entes queridos que lá estão
animar com sua sanfona acompanhando por Luis Gonzaga e meu pai
Zé Pinheiro no violão, Manoel Marrocos no sax, João de Né no pandeiro,
Chico Soares, ritmando no violão, seu Petronilo maestro, netinho do cavaquinho e tantos que lá estão. ETERNAS SAUDADES.
Valeu Zé de Adauto. Parabéns pela matéria. Que Deus lhe ilumine, sempre.
Grande perda para cultura popular de Princesa Isabel
Esse Miguezim de Princesa é um gota serena. Bela homenagem em poesia. Parabéns.
BELA HOMENAGEM AO GRANDE SANFONEIRO DO GAVIÃO!!! VALEU TIÃO E MIGUEL FILHO; VALEU ZÉ DUARTE, VOCÊS SÃO TRÊS GRANDES JORNALISTAS QUE DIVULGAM NOSSOS ARTISTAS E AS COISAS BOAS DA NOSSA TERRA.
Xixica vai fazer muita falta a todos nós
Bela matéria, caro Zé Duarte. além da homenagem ao saudoso sanfoneiro, vale o registro da ‘sobriedade’ do pintor Antônio Roberto e do contabilista Neno França, com o seu primo César França regendo um cantor (quem é ele?) cheio de “mé”. A vida é bela.
Grande perda para Princesa,meus sentimentos a família me lembro das vezes em que ele e eu cantamos o Xili-lique,obrigado amigo,que continue onde se encontra a animar os seus semelhantes,com sua simplicidade,cordialidade e sua arte, um dia nos veremos.