sáb
03
out
2015

O Gordo representava o potencial de guerra da grande nação do norte, o Magro somos nós outros

OTÁVIO SITÔNIOOtávio Sitônio Pinto

Já houve mais de 40 atentados com vítimas fatais a escolas, nos EUA. Os gringos não gostam de escolas – eis um dos motivos. Eu também não gosto, nem as escolas de mim. Somos excludentes. Mas nem por isso fiz algum atentado contra elas, nem pretendo fazer. Sociólogos e psicólogos chegaram a algumas conclusões sobre quem poderiam ser os autores dos atentados em série contra as escolas e outras vítimas de Tio Sam.

Os suspeitos estariam entre a dupla Oliver Hardy e Stan Laurel, mas outros personagens estariam sendo investigados. Os ditos cujos são violentos, e estão na base da subcultura norte-americana, cercados de outros elementos de igual periculosidade. Trata-se da dupla conhecida no Brasil pela alcunha de “o Gordo e o Magro”, íntimos da nossa infância – e lá deles – com sua presença garantida nas salas de exibição de cinema, em sessões infantis.

Eles não se davam bem, eram belicosos entre si nas suas gags traumáticas, mas aceitas como engraçadas. O mínimo que faziam era puxar a cadeira do outro, quando a vítima ia se sentar. Isso acontecia mais com o Gordo, pois seu tombo era sempre maior. A plateia acompanhava a queda com estrepitosa gargalhada, o que tornava o gesto isento de qualquer recriminação. Foi estribado nessa isenção que puxei a cadeira quando minha tia se sentava com seu recém-nascido nos braços, quando fui menino. Felizmente uma pessoa grande viu e evitou a tragédia.

O Gordo e o Magro eram vítimas recíprocas. O Gordo representava o potencial de guerra da grande nação do norte, o Magro somos nós outros – o resto da humanidade, o Terceiro Mundo, as áfricas, as américas latinas. Pois o planeta é feito dessas sobras que alimentam a obesidade violenta do Gordo. Mas o Magro também é de briga, e trituram-se um ao outro durante a matinal infantil, na sala de projeção – ambiente mítico e mágico, onde as coisas acontecem como verdade verdadeira.

A dupla era formada por amigos do peito, embora se apresentassem como inimigos figadais. Quando o Gordo morreu, o Magro deprimiu e nunca mais fez cinema. Menos cotada era a dupla Abbott e Costelo, mas capaz de gags truculentas. Tio Sam não brinca em serviço, mesmo quando brinca. O FBI já descobriu outra dupla de matadores seriais: ninguém menos que o gato Tom e o camundongo Jerry. Esses dois têm predileção por explosivos, vivem acendendo bananas de dinamite na casa do outro, debaixo do outro rabo.

As bananas explodem, as casas voam pelos ares, os rabos saem chamuscados, mas escapam para o próximo episódio. Tom & Jerry são os personagens mais violentos da subcultura norte americana, mais perigosos de que a Força Aérea do Texas, os Marines de Nova Jersey, o Exército de Nova Iorque, a Polícia da Califórnia juntos. O gato Tom, de tão brabo que é, virou nome de avião de caça e de uma pistola 7.65, fabricada pela Beretta para o mercado ianque.

Às vezes as duplas assassinas de Tio Sam atuam isoladamente, cara e coroa. É o caso de John Wayne e Gary Cooper: nunca atuaram juntos, e não haveria tela de cinema que resistisse à presença dos dois, um atirando pra baixo, o outro pra cima. Parece que eram amigos, saberá o cinófilo João Batista. Mas não se juntavam na hora de fazer um faroeste, ou um filme de guerra contra os inimigos da democracia. Daria a maior bilheteria do mundo, mas não fizeram o filme. Eram muito ricos e vaidosos.

Na cabine do voo 420, de Honolulu para São Francisco (Um fio de esperança, The high and the mighty), havia lugar para Gary Cooper, mas ele não foi. John Wayne (Dan Roman) teve de pilotar o DC-4 praticamente só, amotinado contra o comandante Sullivan. Os gringos não viram que isso era uma apologia às revoluções.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.


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