sáb
05
dez
2015

“Naquele tempo, os goleiros e os eletricistas tinham de atuar sem luvas”

OTÁVIO SITÔNIOOtávio Sitônio Pinto

Esse goleiro do Palmeiras parece que saiu da Seleção Alemã para os gramados brasileiros. Veja o nome dele: Büttenbender Prass. Ele fez o gol da vitória na final da Copa Brasil, na cobrança dos pênaltis. Mandou a bola para o fundo das redes do Santos e decidiu o jogo. Parece coisa de Rogério Ceni, o goleiro que os brasileiros estão acostumados a ver fazendo gols. Mas o dia foi de Fernando Prass, com seu chute certeiro no canto direito. Um chute rasteiro para goleiro nenhum botar defeito.

Os chutes rasteiros são mais letais que os aéreos, pois do chão a bola não passa. Não se perde chute por cima do travessão. Fernando Prass sabia o que estava fazendo quando mandou a bola rasteira. Se pegar no chão a bola será mais difícil ainda de segurar: ela ganhará um efeito fatal, parece coisa de bruxaria. Lembra aquela cobrança de pênaltis em que o Guará sagrou-se campeão. Depois daquele jogo, o goleiro do Guará mudou de nome. Ele cobrou o pênalti, o goleiro do Liceu pegou a bola. Quando botou a pelota no chão para cobrar o tiro de meta, a bola entrou. Desde então o artilheiro passou a se chamar “De Efeito”.

Prass parece ter saído da Seleção Alemã para a Brasileira. Aquela que humilhou o Brasil com o resultado de 7 X 1, na última e inesquecível Copa, com o Brasil jogando dentro de casa. Entendo que as dificuldades da presidente Dilma começaram naquele jogo. O Brasil gastou uma nota reformando seus estádios e viu um desastre daqueles, ao vivo e em cores, o juiz apontando o meio do campo gol após gol.

Ninguém acertou o bolo de vizinhos. Quem iria adivinhar um escore daqueles? Sete a um? Nem no campeonato baiano, o time do terreiro jogando com todos os exus a seu favor. Dizem que Zé Pilintra é um grande goleador. Mas ele jamais alcançou um resultado como o 7 X 1 no time da casa. Quando é que o Brasil vai tirar a forra? Vai ser difícil O Brasil pode ganhar novas copas, mas ganhar de 7 X 1 da Alemanha vai ser um resultado mais que difícil. Nem com uma dupla de atacantes como Garrincha e Pelé, Garrincha fazendo que iria pela direita e indo pela direita mesmo, cruzando para Pelé ou Vavá, da frente para trás, gol.

A Copa Brasil de 2015 foi decidida nos pênaltis. Que suspense. O brasileiro tem bom coração. Ninguém morreu de enfarte. Prass tomou distância, fez finca e mandou ver, a rede ficou balançando. Ele é de Viamão, uma querência do Rio Grande do Sul. Um egresso da Europa: jogou pelo União de Leiria, de Portugal, onde fez fama. Um grande goleiro, 1,91 m. Agora virou goleador. O último chute de uma disputa de pênaltis é muito difícil, pois os artilheiros estão com os nervos atacados. A vez é mais dos goleiros. Mas Prass faturou.

Ele é duas vezes compatriota de Gisele Bündchen, pois é um gaúcho de origem alemã. Veja o trema no “ü”. Fazia tempo que eu não usava o trema, estava até com saudade. A língua portuguesa era uma das poucas que usava trema, era um recurso chic. Mas tiraram o trema na reforma ortográfica. Que pena. Os doutores da gramática tiraram, e o jeito é obedecer. Hoje, só se usa trema no Rio Grande do Sul, terra de Bündchen e Büttenbender Prass.

Os goleiros de hoje são diferentes dos de antigamente. Castilho era o titular do Fluminense, Gilmar o seu reserva. Mas Gilmar era o titular da Seleção na Copa, e Castilho o seu reserva. Um tempo em que os goleiros jogavam sem luvas, os dedos de Castilho eram rebentados. Na Copa em que Saldanha foi o técnico das eliminatórias, perguntaram ao comunista porque ele escalou Leão como titular. “Porque é o único goleiro brasileiro que joga com luvas”, respondeu o técnico gaúcho. Naquele tempo, os goleiros e os eletricistas tinham de atuar sem luvas. Cabra macho fazia assim. Calçar luvas, na rede do gol ou na rede elétrica, era coisa de veado.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.


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