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17
mar
2016

Política deve ser uma arte muito difícil, pois nem Einstein dela entendia

OTÁVIO SITÔNIOOtávio Sitônio Pinto

– Não entendo nada de política; tudo que sei é um pouco de evidência – teria dito Einstein a quem foi lhe convidar para ser o primeiro presidente de Israel, após a guerra do mundo. O Brasil tem muito a ver com isso, pois o embaixador Oswaldo Aranha, representante de Pindorama junto à ONU, foi quem deu o parecer favorável à admissão de Israel na assembleia das nações.

Tudo seria muito justo se o território em que se assentou a pária de Jesus não tivesse dono. Mas tinha, eram os palestinos, que estão lá até hoje, escorraçados pelos israelitas. Que dessem uma pátria para os judeus, errantes no meio do mundo. Mas que dessem outra aos palestinos, pois um povo não pode ficar sem pátria. Mesmo que seja judeu, ou mesmo que seja árabe.

Política deve ser uma arte muito difícil, pois nem Einstein dela entendia. Ele só sabia um pouco de evidência; ainda bem que disse que só sabia um pouco de fatoração. Há quem diga que o gênio da relatividade não entendia de matemática como de física. Sua primeira mulher era quem fazia seus cálculos impossíveis, transformando sua imaginação em álgebra e números.

Modernamente, raros são os que entendem, mesmo pouco, de evidência. Tenho perguntado aos profissionais de ciências exatas, mas eles dizem que não sabem. Deve ser porque evidência tem também outro nome, que seja fatoração. Deve ser assim que o Douto Leitor a conheça. Lembro-me vagamente que tentaram ensinar-me isso quando eu era menino. Parece que não aprendi.

Einstein entendeu o mundo, mas recuou diante da política. Ele não deve ter entendido como se toma um país de um povo para dá-lo a outro. Como a Alemanha quis fazer e não fez (mas os aliados, sim). Alguma coisa, em política, apresentou-se a Einstein como um monstro medonho, de sete cabeças ou mais. Pois o gênio disse que não entendia nada do assunto, nada.

Em alemão, a evidência da matemática se escreve quase como em português, “evidenz”. Mesmo assim, Ein (para os íntimos) só entendia um pouco. Quanto à política, parece que ele aprendeu em Platão, que achava a mais difícil das artes. A que tecia o croché de todas as artes, até fazer a bandeira dos partidos, ou do país que se pretendia governar.

A política brasileira apresenta-se como coisa cada vez mais difícil. Lula deve ter perdido aquele dedo tentando cozer a política. Vamos ver se ele consegue costurar os fios que restaram no tecido social. Disse uma impropriedade: que era uma jararaca (botrophs), que estava pronto para picar seus detratores. Numa coisa ele se parece com as jararacas: as cobras só picam em legítima defesa.

Qual tipo de jararaca se parece com Lula? A cobra mais peçonhenta do Brasil é a jararaca ilhoa (Botrophs insularis). As cobras não são venenosas, e sim peçonhentas; veneno é uma substância não encontrada no reino animal, mas no vegetal e mineral. A jararaca ilhoa mata um em poucos minutos. Mas, mais peçonhento é o homem.

A dita é uma cobra em extinção, pois tem pouco alimento no seu habitat (a Ilha das Cobras, no litoral de São Pauo), e sofre a ação predatória do homem, que vai buscá-la para extrair seu veneno e fazer anti-hipertensivos. A ilhoa ainda é perseguida pelas muçuranas (cobras-pretas, Cloelia cloelia), que o homem colocou na ilha com esse fim. Além do que, a dita tem exemplares estéreis.

Lá em nós não se pronuncia a palavra cobra, nem os nomes de suas espécies. Diz-se “o lagarto”, ou “a dita”, para não chamá-la aos pés ou para o ambiente. Mesmo que o falante seja “curado”, isto é, que tenha sido picado, e, portanto, imune. Alguns curados têm a capacidade de matar uma dita, se picado outra vez. Acho que o Brasil está curado de jararaca; já foi picado muitas vezes.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.


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