qui
14
jul
2016

Os índios tupis chamavam “teonguerá” a seus cemitérios. Teonguerá quer dizer “curral dos mortos”

OTÁVIO SITÔNIOOtávio Sitônio Pinto

Quando Dom Pedro II passou na Paraíba, fez uma doação do próprio bolso para a construção do Cemitério da Boa Sentença. Do próprio bolso é a maneira de dizer, pois os reis, naquele tempo, tinham no seu secretariado a figura do “esmoler” – a pessoa encarregada de dar esmolas, como fez o fulano ao encarregado de angariar fundos para o cemitério local.

A informação é do historiador e médico Guilherme Gomes da Silveira D’Ávila Lins, professor emérito da Universidade Federal da Paraíba. Guilherme não cuida mais dos vivos, só dos mortos. Dos falecidos há muito tempo, que conquistaram lugar na História. É exemplo sua informação sobre a generosidade do Imperador para com o Boa Sentença.

É assim que os homens entram para a História: Dom Pedro II mandou seu esmoler doar quatro contos de reis para a construção do campo santo do Varadouro, e garantiu seu lugar na crônica de Guilherme. Corria o ano de 1859. O Imperador só chegou quatro anos depois de iniciado o Boa Sentença, pois a piedosa construção começara em 1855.

Não é obra cara a construção de um cemitério, composta praticamente de um muro em seu redor. O Boa Sentença ainda possui uma capela, por onde começou sua edificação. Depois, o campo santo da Rua São Miguel recebeu o gradil que o circunda, retirado da Praça dos Três Poderes. Quem sabe dessas coisas é o historiador Guilherme D’Ávila Lins.

O emérito professor lançou candidatura à presidência do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, e teve a delicadeza de me incluir em sua chapa, na Comissão de Antropologia, Etnografia e Sociologia. Parece até coisa de Zé do Índio, o meu primo que estudava os índios Cariris e Tairarius. Zé achava até que eu fosse tairariu; sinto-me honrado.

Os índios tupis chamavam “teonguerá” a seus cemitérios. Teonguerá quer dizer “curral dos mortos”. É bucólica a expressão. Bucólica e lírica. Se Zé vivo fosse, eu ia perguntar-lhe mais alguma coisa sobre o curral da saudade. Conheci um teonguerá muito pobre e bucólico, merecedor da expressão, e de uma doação de Dom Pedro, se ele o visse. Foi o cemitério dos índios pankararés no Raso da Catarina, poreyma da Bahia. Poreyma quer dizer deserto.

O emérito professor Guilherme Gomes também diz que é meu parente; vê-se que é pessoa sem bondade, e que realmente pode ser aparentado com os Gomes da Silva de Misericórdia, atual Itaporanga. Meu avô Gratulino Pinto disse-me que “este Silva já foi Silveira”. Meu velho avô sabia das coisas.

Como eu ia dizendo, o Imperador deu quatro contos de reis para a edificação do Cemitério da Boa Sentença. Os anais registram que Dom Pedro doou um total de sete contos para sua visitação à Paraíba. Não era para menos, pois ele trazia um séquito de 50 pessoas. E essa gente comia muito, e bem.

Não sei se Guilherme fez boa escolha em me colocar na sua chapa. Nunca fui político, nem dou sorte em eleições. Até agora, fiz parte de uma chapa na Associação Paraibana de Imprensa, numa eleição em que perdi, e, outra vez, numa eleição no Sindicato dos Jornalistas da Paraíba. Nessa, ganhei, apoiado pelo PCdoB.

Será que o PCdoB está apoiando Guilherme? Não sou mais filiado aos quadros do Partido. Hoje, considero-me à sua esquerda. O Partido votou a favor da lei do desarmamento popular, no que discordei. E o povo ficou desarmado perante o Estado, ao contrário do que defendia Benjamim Franklin. E que resultou na segunda emenda da constituição dos EEUU, que estabelece o dever do cidadão se armar para defender a pária e a democracia, com seu exército de milícias. Como na Suíça e em Cuba.

A segunda emenda é inspirada nas forças armadas suíças, e o exército cubano é inspirado na constituição norte-americana. Poucos sabem disso.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.


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