sáb
02
nov
2019

toffoli_eduardo bolsonaro

"É vergonhoso o silêncio do Dias Toffoli diante deste grave atentado que ameaça a integridade da própria Suprema Corte que ele preside", escreve o colunista Jeferson Miola em referência à defesa de um AI-5 por Eduardo Bolsonaro. Se Dias Toffoli continuar em silêncio, diz Miola, se assumirá alguém "fora da lei" e sua presença à frente do STF "se torna nefasta".

Jeferson Miola

Eduardo Bolsonaro atentou contra o Estado de Direito e contra a ordem política e social ao ameaçar a adoção da medida ditatorial ao estilo do Ato Institucional nº 5 [AI-5] decretado pela ditadura civil-militar em 13 de dezembro de 1968.

A ameaça de Eduardo Bolsonaro recebeu apoio do ministro do GSI general Augusto Heleno que, com alto senso prático para concretizar o arbítrio, disse que “tem de estudar como vai fazer, como vai conduzir [o AI-5]”.

O general, um saudoso da ditadura 1964/1985 e tão adorador do torturador Brilhante Ustra quanto o clã Bolsonaro, ainda emendou que “se houver uma coisa no padrão do Chile, é lógico que tem de fazer alguma coisa para conter”.

O general trata a democracia como um estorvo: “Essas coisas, hoje, num regime democrático … é complicado. Tem de passar em um monte de lugares. […] Fazem de tudo para não passar. O pessoal não quer, não quer nada que possa organizar o País”.

A medida defendida pelo deputado e filho do presidente [e apoiada pelo ministro do GSI] significou a inflexão totalitária da ditadura civil-militar e o maior ataque feito às liberdades e garantias legais e constitucionais em toda história do país.

As conseqüências dessa medida preconizada por Eduardo Bolsonaro seriam, portanto:

– o fechamento do Poder Legislativo em todos os níveis;

– a cassação de mandatos parlamentares, a proibição de funcionamento dos partidos e inclusive a proscrição de partidos opositores;

– a intervenção federal em estados e municípios;

– a suspensão do direito de reuniões, a censura prévia e o fim das liberdades políticas;

– a implantação de toque de recolher;

– a suspensão do direito ao habeas corpus;

– poderes para o presidente da República demitir procuradores, delegados e juízes, dentre eles do STJ e STF e de tribunais de contas, eleitorais etc; e

– poderes absolutos para o presidente da República legislar por decretos, por cima do legislativo e do judiciário.

Ao defender a quebra da ordem política e social para impor um regime de força e arbítrio, Eduardo Bolsonaro quebrou o juramento de defender e obedecer a Constituição e as Leis, prestado na diplomação e na posse como deputado.

Como declarou o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, as declarações “repugnantes” do deputado Eduardo Bolsonaro e “a apologia reiterada a instrumentos da ditadura é passível de punição pelas ferramentas que detêm as instituições democráticas brasileiras”.

O único desfecho aceitável para o crime cometido por Eduardo Bolsonaro é a cassação do mandato. E, com o cometimento de crime de responsabilidade, a continuidade do general Heleno no cargo de ministro de Estado se torna insustentável.

Muitas autoridades, juristas, militares, líderes partidários, lideranças sociais, eclesiásticas, artísticas e a imprensa condenaram a ameaça do filho do presidente, inclusive alguns ministros do STF.

É vergonhoso o silêncio do Dias Toffoli diante deste grave atentado que ameaça a integridade da própria Suprema Corte que ele preside.

Eduardo Bolsonaro é reincidente nas ofensas ao STF; já fez várias ameaças, a mais conhecida, a de fechar o tribunal com um soldado e um jipe.

Se Dias Toffoli continuar em silêncio diante desta brutal violência institucional, se assumirá alguém tão fora da lei como Eduardo Bolsonaro, e sua presença à frente do STF se tornaria nefasta, uma vez que estaria quebrando o juramento de posse, de defender e obedecer a Constituição e as Leis.

Afinal, por que te calas, Toffoli?

Brasil 247


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