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16
jul
2015

Já ouvi um gestor se referir ao lobe das empreteiras como “o nosso lobe é o maior do Brasil

OTÁVIO SITÔNIOOtávio Sitônio Pinto

Um carro popular no Brasil está custando cerca de 32 mil reais. Isso se tratando do veículo completo, com ar condicionado e direção assistida. O Porsche do ex-presidente Fernando Collor, apreendido anteontem pela Polícia Federal, custa um milhão de reais. Dá para comprar uma frota de 30 carros populares. Já o Ferrari do ex-presidente cassado custa na loja dois milhões de reais – o preço de 60 carros populares, que ele chamou de “carroças”. E o Lamborghini? Esse vai para quatro milhões de reais, o preço de 130 “carroças”. Ao todo, cerca de 220 carangos.

Esses carros foram apreendidos em Brasília, na famosa “Casa da Dinda”, residência oficial do ex-presidente cassado. A operação foi cumprimento de uma decisão do Supremo Tribunal Federal, e visa ressarcir os cofres públicos de possíveis prejuízos ao erário promovidos pelo ex-presidente, agora senador. Já faz tempo de sua cassação; na época. Devia ter sido feita uma devassa dessas que está sendo levada a efeito pela Operação Lava Jato. Ter-se-ia descoberto muita coisa, mas nada se investigou nem apurou. Quando eleito, Lula disse que não ia olhar pelo retrovisor, e se jogou o lixo para debaixo do tapete.

Confesso ao Douto Leitor que eu não esperava a Operação Lava Jato ir tão longe. Cheguei a pensar que seria uma grande pizza. E aqueles empreiteiros todos não iriam para a cadeia, sequer seriam investigados. As empreiteiras são quem comanda a corrupção no Brasil, financiando a eleição de gestores e legisladores. Com isso, fazem as leis, casam, batizam e descasam. Depois, tiram a despesa nas obras superfaturadas. O contribuinte é quem paga, e o eleitor pensa que votou. E o Brasil continua o mesmo – o país das empreiteiras. Já ouvi um gestor se referir ao lobe das empreiteiras como “o nosso lobe é o maior do Brasil”. E é.

Mas o governo atual está revelando a bandidagem que governava o Brasil desde 1930, quando teve início a corrupção no País. Creio que veio mais de longe, mas só agora foi revelada. A apreensão dos carros de Collor faz parte da Operação Politeia, fase mais recente da Operação Lava Jato. Politeia era a cidade que Platão imaginava para sua Utopia, onde os governantes eram filósofos. A operação visa o pagamento de propinas a políticos influentes pelas empresas públicas brasileiras.

Os carros de Collor podem revelar coisas interessantes, como o fato de não terem sido relacionados na sua declaração de bens quando foi candidato. Juntos, orçam em sete milhões de reais. São máquinas esportivas, de alto desempenho e grande luxo. O Brasil não tem estradas para a circulação desses carros; a “primeira” de qualquer um deles vai além de cem (100) kmh. Onde o ex-presidente cassado iria dirigi-los? Quando estava no cargo, interditou uma rua em Brasília só para dar uma carreira na moto de um xeleleu. Baby Doc, filho de Papa Doc, fez a mesma coisa. Mandou asfaltar uma rua no Haiti para pilotar sua BMW.

E agora, onde Collor irá decolar seu Lamborghini? Eles têm motor V-12 e desenvolvem mais de 700 cavalos. Na minha rua não dá para passar, o carro é muito baixo e o piso é irregular. Brasília tem boa pavimentação, mas não o bastante para aqueles carros. Ele deve dirigi-los no autódromo. O cara deve estar muito rico para imobilizar sete milhões em carros importados, que se desvalorizam a cada dia. Tive contato com essa figura quando ele andava numa Suzuki de três cilindros (ou era uma Kawasaki), e eu era abestalhado por motos. De lá para cá, bem que prosperou. Está faltando um Rolls.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.


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