“Os homens sábios usam as palavras para os seus próprios cálculos, e raciocinam com elas, mas elas são o dinheiro dos tolos”.

Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo inglês, autor de Leviatã

ter
23
set
2014

“Só posso dar prognóstico depois do jogo, como respondeu Dadá Peito de Aço ao repórter”

Sitônio PintoOtávio Sitônio

Dunga pensa que é dunga. Começa sua nova era na Seleção Brasileira dispensando dois jogadores de categoria como Hulk e Maicon. A Seleção é carente de craques. Digno desse nome só tem um: Neymar de nós todos. Um jogador nível 58/62, quando a Seleção conquistou suas duas primeiras Copas. Naquele tempo, o Brasil entrava em campo com Didi, Garrincha, Vavá, Pelé, Zagalo. Era um ataque pra ninguém segurar. E a defesa tinha a fama de ser melhor que o ataque, com Gilmar, De Sordi, Beline, Nilton Santos, Djalma Santos, Zito, Dino Sani. Era a melhor defesa do mundo.

O fato do Brasil jogar com Garrincha e Pelé já era um diferencial fora de série. Ainda hoje se discute quem era o maior jogador do mundo: Garrincha ou Pelé. Entendo que um era o melhor, o outro o maior. Didi era perfeito na sua posição de meia-armador, terrível com a bola parada, mais ainda em movimento. Inventou uma tal de “folha seca”, em que a bola fazia uma trajetória helicoidal, ia lá e cá, até se aninhar nas redes, atrás do goleiro perplexo.

Acesse a final da Copa de 1958 no Youtube e veja Zagalo jogando um futebol magnífico no campo todo – na defesa, no ataque e na armação. Um dia, viria a ser o técnico da Seleção. Já era naquele tempo, junto com Didi. Nunca mais o Brasil vai armar uma seleção daquela.

Agora vem Dunga e entra em campo desconvocando jogadores num time sem craques. Quando eu era menino, “dunga” queria dizer valentão. Fulano é o dunga, se dizia com o valente do bairro ou da escola. E parece que ele é. Só não sei como vai tapar o buraco com a saída de um jogador como Hulk, mais outro como o lateral Maicon. Talvez Hulk tenha exagerado, apresentando um atestado médico de que estava incapaz de jogo e, no outro dia, disputar uma partida pelo seu time. E Maicon? Dizem que o lateral chegou à concentração às sete da manhã, depois de uma farra.

Dizem muita coisa, pois o comando da Seleção faz silêncio e o silêncio é fértil. O volante Elias está querendo processar quem inventou o boato de que ele e Maicon seriam amigados. Não consideraram o estado civil de Elias, que é casado. É no que dá a falta de transparência em um nicho sagrado como a Seleção Brasileira. A galera quer saber por que fulano entrou e sicrano saiu. Ninguém diz, aí se inventa. Dunga não gosta de dar satisfações, ele é o dunga. Não gosta de jornalistas. Pois se vire com os boateiros.

Amanhã o Brasil vai encarar a Argentina no estádio Ninho do Pássaro, de Pequim. O jogo será às 9h05. Os chineses são pontuais, não perca. Você vai ver se o Brasil merecia levar aquela de um a oito contra a Alemanha, que só conseguiu zero a um contra a Argentina. Aquele placar do Brasil foi atípico. O Brasil estava com seu craque Neymar no estaleiro e seu capitão Thiago Silva suspenso. A imprensa internacional considerava Thiago Silva o melhor jogador da Seleção, melhor ainda que Neymar. Pois o Brasil jogou sem os dois, oito a um.

Não houve placar parecido com aquele entre os times com os quais a Alemanha e o Brasil jogaram. Eu insisto em dizer que o placar foi atípico. De quanto será o jogo de amanhã? Não adivinho; se adivinhasse, acertaria na loteria. Só posso dar prognóstico depois do jogo, como respondeu Dadá Peito de Aço ao repórter. Isso fica para Dunga, que é o dunga.

P. S.: Esse jogo na China tem um problema a mais: o deus de lá não é brasileiro. Os chineses não estão respeitando o fato de o Brasil ser o maior país católico do mundo. Você já viu a imagem de Nossa Senhora Aparecida nas bancas de camelôs? Veja o fundo da santa: tem “made in China” escrito. O mesmo pode ser visto na estatueta do Cristo Redentor do Corcovado: tem “made in China” no fundo. O Brasil devia contra-atacar com o Buda “made in Campina Grande”, terra de Hulk. O mercado da China é maior.

*Jornalista, escritor, poeta, ensaísta, publicitário e membro do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, da Academia Paraibana de Letras e da Academia de Letras e Artes do Nordeste.


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